Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Monday, November 30, 2009

The big L




Tenho saudades do amor.

Tive sorte. Durante a maior parte da minha vida estive apaixonada por alguém. Não consigo dizer se estive mais apaixonada por um do que por outro. Acho que o amor é tão diferente conforme as pessoas envolvidas. De igual o amor tem a incrível capacidade de tornar tudo mais vivo. As cores são mais brilhantes, as palavras ganham o seu verdadeiro sentido. O amor desperta-nos de uma dormência em que não sabíamos que estávamos.
As coisas mais bonitas e corajosas da minha vida, fi-las por estar apaixonada. Agora, olhando para trás, parecem tão loucas! Mas naquela altura, quando eu vivia com o amor, fazê-las era como respirar: natural e imprescindível ao mesmo tempo. E as fotografias? A rapariga e o rapaz que estão nelas? São pessoas melhores do que somos agora. Tão bonitas e perfeitas... tanto quanto se pode ser bonito e perfeito.

Pensei que tirar umas férias do amor seria bom. Poderia finalmente concentrar-me nas coisas que supostamente são as mais importantes, mas descobri que quando o amor desaparece não há nada que o possa substituir. Por mais que se ame um ofício, uma arte, um amigo, um irmão, quando não estamos apaixonados fica sempre um vazio que nenhuma outra coisa pode preencher. Há dias em que parece que esse vazio nos vai engolir de tão grande que é e de tão pequenos e ridículos que nos sentimos seguindo pela rua acima a caminho de casa.
A Lua agora é apenas um satélite da Terra. Gira à nossa volta enquanto nós giramos em torno do Sol. Somos massa, em maior ou menor escala, girando num universo imenso e sem sentido. Chamem-me uma miúda tonta, mas... Eu tenho saudades do amor.

Wednesday, November 25, 2009

O que o Pedro Paixão sabe sobre os homens

Chateda com a futilidade do meu post O que eu (não) sei sobre os homens, deparei-me hoje com algo que se aproxima mais daquilo que eu queria dizer e não disse, seja por receio ou incapacidade:

"Os homens são uns parvos. Não se conseguem entregar por completo ao amor. Têm sempre o trabalho ou outra desculpa do género. Preocupam-se com o que não estão a fazer. Para eles o amor pode ser um inimigo. Um inimigo há muito derrotado mas de que ainda têm medo. As mulheres são diferentes. Para elas o amor nunca é demais. Não atrapalha. É que não conseguem viver com uma alma só para elas". (...)

Uma pancada na água in Nos teus braços morreríamos by Pedro Paixão


Friday, November 20, 2009

Contornos difusos



(...)
Tinham chegado ao lance de escadas no terraço que dava para a estufa. Quando a porta de vidro se fechou sobre Dorian, Lord Henry voltou-se e fitou a duquesa com os seus olhos lânguidos.
-Estás muito apaixonada por ele?- perguntou.
Ela não respondeu logo, contemplando demoradamente a paisagem.
-Quem me dera saber- disse, por fim.
Ele abanou a cabeça.
-O conhecimento seria fatal. É a incerteza que nos seduz. Uma névoa torna as coisas encantadoras.
-Podemos perder-nos no caminho.
-Todos os caminhos acabam a dada altura, minha querida Gladys.
-Que altura?
-A da desilusão.
(...)

The portrait of Dorian Gray by Oscar Wilde

O que eu (não) sei sobre os homens...


O título deste post é o mesmo de uma rubrica da revista Pública que leio todos os domingos. Uma vez por semana gosto de descobrir o que esta ou aquela cara famosa sabe ou pensa saber sobre o sexo oposto, mas quase sempre acabo a página desiludida. Afinal, não se sabe muito a respeito do nosso yin e yang, ou será que, pelo contrário, não somos assim tão diferentes?

Já há algum tempo que faço o desafio a mim própria, mas sempre que arranjo um adjectivo que considero qualificar os homens, essa raça quase alienígena para as mulheres, lembro-me de um caso que o contradiz. Porque tanto os homens como as mulheres são um mundo, há-os de todas as formas e feitios e não há um só saco onde caibam todos. Por isso, não tentemos fazê-lo... O resultado seria uma generalização absurda, aliás, como o são todas as generalizações.

Cada mulher traz os "seus" homens estampados na cara. São eles que produzem aquelas rugas profundas na cara das mulheres à medida que o tempo avança. Os mesmos que dão aquele brilho nos olhos que as mulheres irradiam depois de uma noite bem passada. Uma mulher bonita e feliz é uma mulher que encontrou um bom homem ou então uma que não está à procura dele- o que é raro!

Se bem que de maneira geral as pessoas com quem nos cruzamos durante a vida acabam sempre por deixar alguma marca, só os homens têm o poder de nos destruir ou erguer com apenas algumas palavras. Menos do que isso até. O homem é a coisa mais importante na vida de uma mulher e, na minha opinião, é por isso que as mulheres ainda não chegaram aos lugares de topo da sociedade. Porque o namorado, o marido, o filho vem sempre primeiro. Uma mulher deixa de ir às aulas para estar com o namorado, deixa de ir trabalhar por causa do filho doente, deixa tudo pelo marido. É preciso que alguém o faça e esse alguém é uma mulher.

Há qualquer coisa na mulher que faz com que fique acordada madrugada dentro à espera que o marido chegue a casa. Tem tanto medo de o perder que deixa de fazer Erasmus para não estar longe dele, não corta o cabelo porque ele gosta dele comprido. Os anos passam e a este ritmo ela vai tornar-se em mais uma daquelas velhotas com cara de ameixa furiosa. Sim, não foste retribuída na mesma medida. Sim, foste enganada uma ou duas vezes. Sim, não te deram o devido valor e agora é tarde demais. Mas mesmo que não fosse, se pudesses voltar atrás, darias tudo de ti outra vez.  

Não façamos o elogio da mulher. Todas sabemos que deste lado não há só santas. Mas nunca conheci uma que tivesse dito a um homem que o ama para o levar para a cama nem que tivesse dito que era solteira quando não era. Não fazem promessas que não tencionam cumprir. Não precisam de o fazer, é verdade. Os homens não estão assim tão interessados no longo prazo.

Da mesma maneira, nunca encontrei um homem que tivesse chorado porque não tinha recebido um telefonema nos dias a seguir a um encontro ou porque tinha descoberto que ela afinal era casada. Os homens também choram, mas não por estas coisas. Os homens escrevem blogues, mas não sobre estas coisas.

As amigas receitam-me mais desconfiança em relação aos homens. Há pouco tempo uma disse-me que eu era ingénua, a única coisa que eu nunca pensei que me chamassem! Agradeço a preocupação, mas estou bem assim, obrigada. Sei muito bem que assim que perder a fé nos homens, quando deixar de ser "ingénua", quando começar a ter medo deles, vou estar a acelerar o meu caminho até às tais rugas enfurecidas.

A uma filha eu diria: Os homens podem dar-nos o melhor e o pior da vida, nós é que antes de mais temos de saber o que queremos que eles nos dêem.  

Wednesday, November 11, 2009

Volta a 2009 em 10 posts (I)


Hoje foi o dia da apresentação pública da nova campanha da Leopoldina. Vi a notícia na TVI - uma auto-promoção foleira encapuzada de boa vontade destinada a atingir o público onde dói mais: crianças doentes. Bah! - e mudei de canal, mas na minha cabeça recuei 365 dias até à anterior apresentação da campanha.

10 de Novembro de 2008. CCB. A ministra da Saúde, Ana Jorge, em vez de Maria Cavaco Silva. Eu sentada na plateia a tirar notas para a minha reportagem sobre campanhas de solidariedade social de grandes grupos económicos em época natalícia para o segundo caderno do Público, o meu beloved P2.

Tenho esta mania: gosto de recuar 365 dias de vez em quando. Gosto de pôr ao lado de quem sou a pessoa que eu era.

A rapariga sentada no CCB é muito diferente da que hoje viu a notícia na televisão. 2009 foi um ano extremamente difícil. Acho que digo isso todos os anos, talvez porque todos os anos as coisas ficam mais difíceis.

Este foi o ano do regresso à ilha natal. Uma redução da minha vida para uma escala quase microscópica e intolerável. Foi o ano das batalhas perdidas à partida. Tanto suor, sangue e lágrimas derramados por quase nada, apenas a possibilidade de sonhar mais um dia até ao momento em que já não é possível sonhar mais.

Sonhámos à grande em 2009! Sonhámos com cozinheiros de ditadores árabes escondidos na ilha de São Jorge. Sonhámos com fazer uma revista de viagens trendy sobre ilhas a partir dos Açores. Sonhámos com um mundo onde duas pessoas que gostam uma da outra fazem tudo para realmente estarem ao lado uma da outra.

Fizemos uma reportagem sobre gravidez precoce num bairro problemático e apanhámos piolhos. Fizémos canyonning, rappel e uma festa de aniversário surpresa para o Flávio, cinco dias depois de o pai dele ter morrido. O bolo de anos estava um pouco "abatido", mas estávamos todos juntos e isso já não acontecia há muitos 365 dias. Juntos, a fazer dos maus momentos óptimas recordações, como é nosso hábito.

Bebemos muito em 2009, mas nunca para esquecer. Sempre com um sorriso nos lábios a revelar a felicidade por baixo da superfície. Dançámos debaixo das estrelas e num dia em que usámos uma boina de tricot, fomos a um concerto e gastámos a noite com vinho tinto, Outkast e Rolling Stones no ipod. Foi então que descobrimos que tínhamos boca de preta e uma identidade russa escondida dentro de nós há 25 anos.

Sim, vocês têm razão, malta. 2009 também teve as suas coisas boas.

Monday, November 09, 2009

Mantra

Next time we meet

I'll try to remember what you said:

"Forget forever.

Our love is dead".

Monday, November 02, 2009

O pacemaker da Cidália



"(...)

Quando há muitos anos me separei, fiz o meu caminho. Conheci fanfarrões e piegas. Atirei-me aos tipos errado, fui inconveniente quando só queria ser ouvida.
Fazem-se muitos erros nesta altura. Até porque ninguém tem o conselho certo para nos dar. Andamos, vagueamos à espera de encontrar alguém ou alguma placa que nos diga o caminho certo, mas isso nunca vai surgir. O labirinto é coerente: vamo-nos perder até ao fim. No fundo, só queríamos saber se ficamos ou se seguimos em frente com a nossa vida mas a resposta revelar-se-á muito mais complexa do que alguma vez sonhámos.
Os amigos terão sempre a tentação de nos puxar para jantares com gente "interessante" e que "tem tudo que ver contigo". Mas eu acho que nós precisamos é de silêncio. O silêncio, que tanto magoa, tem essa vantagem de nos fazer ouvir (e ver?) com muito mais nitidez. Nós às vezes não conseguimos é ouvir o eco da nossa dor. E a parcialidade do nosso sofrimento nunca nos levou longe.

Esta é a fase em que as músicas parecem ter sido escritas para nós e os filmes nos parecem uma grande ilusão onde no entanto todos queremos morar. O mundo conspira contra os corações vulneráveis. Normalmente, nesta altura também podem surgir gastos inesperados:pequenos incidentes domésticos ou fiscais que nos levam o resto da dignidade que ainda havia em nós. A vantagem de tudo isto é que a seguir só podemos renascer.

(...)"

in O sexo e a Cidália, NS' 199, 31 de Outubro de 2009

Superpowerless