Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Friday, April 01, 2011

Deambulações de uma partida

Um aeroporto, dois comboios e muitas estradas. Alguns destinos, muitos imprevistos. Esta parece ser a receita da minha vida. Uma história contada entre um olá e um adeus.

Não gosto do tempo de forma geral, mas gosto da sua capacidade de fazer-nos esquecer o irrelevante e guardar para sempre certos toques, cheiros, delícias e amarguras até. Gosto de saber que daqui a um ano serei diferente e igual. Estarei mais leve, livre de pesos que agora carrego e que com o tempo vou perceber que não eram importantes e arrastando novas cargas que mais tarde perderei também. Por outro lado, na mala e dentro de mim, certas histórias serão repetidas até à exaustão. As suas personagens, as suas palavras, prosseguem comigo enquanto eu prosseguir. São o importante.

Há um certo alívio no meio disto. Há a ilusão de que o que não correu bem aqui, aqui ficará enquanto se vira uma página nova noutro sítio qualquer. Nem sempre é uma ilusão. Oxalá não o seja desta vez.

Friday, February 11, 2011

A minha Bíblia, Corão e Manual de Sobrevivência


"O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir".

by MEC

Tuesday, February 01, 2011

Thursday, January 27, 2011

Invictus

by William Ernest Henley




Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

Wednesday, December 22, 2010

Telegrama: Nós por cá estamos bem



Depois de alguma distância, decidi vir visitar o meu amigo MAU AMOR  que me deu a boa notícia de haverem novos seguidores e um número razoável de visitas diárias para um blogue que em 2010 esteve um pouco só e abandonado. Pergunto-me quem serão estas pessoas, algumas delas de outros continentes, que interesse vêem neste diário limpo de pormenores e circunstâncias, mas pleno de vida e intimidade... Para eles, o meu muito OBRIGADA. Obrigada pelo interesse, pelas visitas e por existirem. Para 2011, já com Internet em casa, espero ter possibilidades de ser mais generosa na partilha de pensamentos e emoções depois de um ano de viagens e aventuras em que ter um pc ligado à grande rede foi coisa pouco habitual.

Para já, ficam os votos de um 2011 fuckin' awesome para todos, com muita paixão e intensidade para que a vida não seja apenas uma sequência rotineira de 24 horas sobre 24 horas.

Per aspera ad astra!




Tuesday, September 28, 2010

Coisas extraordinárias

"Que coisa extraordinária me vai acontecer hoje?". Lembro-me de acordar com esta pergunta na cabeça, de viver dias inteiros, meses, com esta expectativa. E durante bastante tempo, a realidade esteve à altura da minha imaginação. No fundo, era eu que talvez via nas mais pequenas coisas uma magia maior do que elas algum dia poderiam comportar. E assim deve ser, porque eu mudei e essa pergunta desapareceu. Foi substituída por aquela moleza dificíl de sacudir na altura de sair da cama. "Mas afinal, porque é que eu deveria sair da cama hoje??".

Reconheço em mim uma nostalgia infinita pelo passado. Não é que seja saudosista, mas a vida quando nos leva as fantasias, não deixa atrás muita magia. O vocabulário de hoje inclui palavras que não faziam parte do meu discurso de há apenas alguns anos atrás: crise, inflação, desemprego, divórcio, medo, mágoa. Aprendi o que eram essas coisas e muitas outras combinações de palavras e novas realidades.

Claro que houve palavras novas boas e, se eu for justa e clara, chegarei à conclusão de que foram em muito maior número e intensidade. Ainda assim, sinto falta de acordar a interrogar-me sobre de que canto insuspeito saltará o meu sorriso do dia.

Com o passar dos anos, parece que somos nós que temos de criar essa alegria com os mais pequenos gestos e pensamentos. Na minha cabeça lembro-me de que "Deus está nos pormenores" quando cuido de uma planta ou bebo chá, lentamente e na temperatura exacta. Envelhecer, mais do que uma arte, é um acto de fé. Ser capaz de manter a chama viva.  

Monday, July 19, 2010

A Modern Fairytale (SCARY by Björk)



he means tomorrow but says in a bit, and doesn't show up at all,
he sets his watch to a comet's orbit, remembers to forget to call,
no courage for love, too scared to be happy
i do.... do
your place or mine? means heaven or hell.
two addresses somewhat apart,
his home's dark and spiky, hers clear as a bell,
it's over before they can start
no courage for love, too scared to be happy
i do ....don't
and tomorrow passed them by...