Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Monday, July 19, 2010

Radiografia de uma relação mecânica*



* Qualquer semelhança com seres humanos reais é mera coincidência.

Thursday, July 15, 2010

H2O


So on her first day of school mother felt she needed to have a litlle chat with Angeline: "Don't harm anyone, but if someone tries to hit you, hit them twice". The prescription seemed easy enough and also fair. At the same time, it carried a warning: outside, outside the bedroom, outside our house and our garden, there were all kinds of people, and some of them weren't playing around. They could hurt you. You needed to be prepared to fight back. Agressively.

So, how do you know when its safe?
 Twenty years later, I still don't have an answer. I used to think it was all in your gut. That you simply felt it, although many times you couldn't explain it. And then it happenned: my gut messed up and there wasn't anything else to guide me. I didn't trust it anymore and that was when I started to loose myself.

Many times I think about that first day of school and how people seemed so scary. They still do. More than ever, they do. You feel like running away to a place where no one can harm you, but if that place existed, no one would love you either.

They say that 'some people build walls, not to keep others out, but to see who cares enough to break them down' and right now I hate the way I can relate to this idea. All the harm that anyone ever did to me seems to get heavier as time passes by and pilling up brick by brick around me.

I dream of water.
 About 60 percent of the human body consists of water. I admire its lack of color and smell regarding it as if it were pure freedom while I try to remember that if I myself am nothing much but water, and that is out of my control, I still can decide at wich temperature it flows within me. Because one important thing that mom didn't tell me was that ice breaks easily, but water, it just flows.



Tuesday, January 19, 2010

Volta a 2009 em 10 posts: IV Os Trintões*





"Deixa-te de fantasias"


Estávamos ambos sentados no cimento liso de um pedaço de terra rodeado por mar, mas sem areia. Uma praia? Não. Não há areia. Uma zona balnear. Por detrás de uns óculos escuros Armani, o meu mano mais velho diz: "Chegamos a uma idade em que deixamos de ter fantasias". Lembro-me então de que, há mais ou menos vinte anos atrás, subíamos uma rua de mãos dadas quando ele disse: "Tens que ser menos emotiva, Ana Isabel. Dominar os sentimentos em vez de te deixar dominar por eles". Lembrei-me disso e apercebi-me de que, se a vida nos forja, só o consegue fazer até certo ponto. A alma, a nossa essência responda ela por que nome for, nasce inteira e não é flexível. A vida tentará sempre dobrá-la, mas o seu grau de sucesso dependerá das características inatas do metal.

O tempo é o nosso teste de resistência. Se a idade não define quem somos, obriga-nos a definir-nos. E os trinta anos são a altura em que a maior parte das pessoas decide que chegou o momento de parar com as brincadeiras.

Aos trinta anos, uma pessoa apercebe-se da finitude do seu horizonte. O corpo começa a revelar que é falível e uma vítima da força de gravidade. As regras da sociedade ditam que aquelas mesmas coisas que foram sempre fonte de prazer, ainda que continuem a ser apetecíveis, são agora condenáveis.


Uma mulher de 29 anos receia que, se não assentar, nunca terá a oportunidade de realizar a sua condição mais essencial: ser mãe. Mas ambos os sexos percebem que aquele sentimento de solidão continuará a agravar-se e que, sendo assim, mais vale agarrarem-se bem à pessoa que têm ao lado. A urgência de se agarrarem a algo. Uma mulher, um filho, uma prestação da casa. Torna-se importante viver para algo que não seja somente a satisfação do próprio desejo.

Que sociedade teríamos se, aos trinta anos, as pessoas não sentissem esta orfandade?

O tipo de gravata que se mata a trabalhar das nove às seis da tarde para pagar a creche do filho e o carro de terceira mão pode encontrar pequenas felicidades no seu dia a dia, mas não foi isso que ele imaginou quando em pequeno lhe perguntavam o que queria ser quando fosse grande. Deitado na sua cama adolescente a sonhar com o futuro ouvindo punk rock e sentindo-se capaz de tudo, "tudo" não era o cubículo 21 de um call center. O que é que lhe aconteceu? Como o meu irmão disse: "chegamos a uma idade em que nos deixamos de fantasias". O filho desse tipo engravatado não pode comer sonhos ao pequeno-almoço e o supermercado não aceita fantasias como forma de pagamento. Percebo, mano.

Nós precisamos que esse tipo seja tal e qual como ele é e que hajam muitos mais como ele. São essas as pessoas que descontam para a Segurança Social, os que vêem as comédias norte-americanas estúpidas que são as fontes de lucro das produtoras de Hollywood. Sem eles ninguém conheceria a Sandra Bullock e não existiria a revista Caras.  Pagam impostos e no porta-chaves têm um cartão do Clube Minipreço. Estas pessoas são o óleo que permite que a "máquina" continue a funcionar. O sustentáculo do mundo tal como o conhecemos.

Mas do que teremos de abdicar, enquanto sociedade, para termos estabilidade? Quem somos quando nos deixamos de fantasias?

O meu irmão é oito anos mais velho do que eu. Quando vemos fotografias de família e ele aparece em versão reguila, logo salta para o lado do écran de televisão para que possamos fazer a comparação: "O que é que aquele gajo que está ali tem que eu não tenha?", pergunta com o sorriso seguro de quem acha que o tempo não o marcou. Mas isso não é verdade.

Houve um dia em que ele apostou tudo numa pessoa que acabou por o desiludir. A partir daí arrumou-se em várias caixinhas, definiu-se como o aventureiro, o forte, o solteirão. E fechou outras definitivamente. Ter uma família não era para ele. Ele estaria bem, mas sozinho. Deixou de ter fantasias.

Vendo-o agora enroscado no sofá com a Margarida a irradiar felicidade por todos os poros encontro uma certa serenidade. Afinal o que nós perdemos é a coragem para dizer que ainda sonhamos.





*a pedido de muitas famílias, apesar de já estarmos em 2010, vou finalizar a sequência Volta a 2009 em 10 posts. Perdoem o anacronismo s.f.f.

Tuesday, January 12, 2010

Dreaming of trees

Quando eu era pequena o meu pai às vezes levava-me consigo para os pastos quando ia tratar dos animais. Tínhamos vários terrenos espalhados pela ilha que eram do meu avô e de que ele cuidava religiosamente. Não consigo lembrar-me de qual seria a minha idade então apenas de que ainda não estava na escola e, portanto, teria menos de seis anos.

Tentava apanhar borboletas e comia erva azeda com a flor amarela na ponta do fio verde que trincava entre dentes observando atentamente cada gesto dele, tentando perceber comos e porquês. Estava sol e, se o tentava ajudar, se me queria envolver ele dizia sempre que o lugar das meninas era em casa. Lembro-me de lhe perguntar mil vezes se o podia ajudar e de ele, na sua sensatez, só me responder umas duzentas vezes. "Não".

Houve sempre um grande silêncio à volta do meu pai. Não o silêncio desconfortável entre duas pessoas que não se conhecem o suficiente para manter uma conversa ainda que se sintam obrigadas a isso. O meu pai tinha o silêncio da paz. As suas mãos grandes cheiravam a  terra quente, mas eram sobretudo os olhos, de cor indefinida entre o azul e o cinza, que me diziam que ele estaria lá sempre que eu precisasse, mesmo quando mais ninguém estivesse. Sobretudo quando mais ninguém estivesse.


Àquele bocado de terra chamávamos Mata por causa das árvores altas e abundantes que lá havia depois do pasto. As vacas ficavam nesse primeiro rectângulo verde delimitado por um muro feito de pedras empilhadas onde a certa altura uma quebra servia de porta para a zona das àrvores, onde o sol penetrava mal a rede de copas de árvores unidas lá no alto. Era assustador entrar lá por causa dessa escuridão. Tinha-se a sensação de de repente se entrar num mundo diferente. O chão deixava de ser luzerna por onde se podia correr facilmente atrás de borboletas -"Ana Isabel, sai de cima da erva!!"- para ser as folhas secas que caiem das árvores e grandes pedras negras, ora com musgo ora ásperas, esponjas a absorver a humidade. O chão não era certo e, por isso. os passos muito menos.

Estava a andar por cima das folhas tomando atenção ao sítio onde colocava os pés. Folhas de eucalipto. Eram castanhas e tinham a forma de uma meia lua alongada. Uma foice. Faziam barulho quando as pisava. Lá no alto, muito acima de mim, as copas das árvores eram como mulheres enfurecidas que se abanavam. Faziam barulho. Eu estava a procurar uma cascata. Ouvia água a correr. O som da água em movimento. Imaginava a minha cascata para lá dos troncos caídos, dos galhos e das silvas que pareciam alimentar-se daquela escuridão. Uma mistura de medo e sede fazia com que continuasse a avançar até chegar bem longe da entrada da Mata. O vazio deteve-me.

À minha frente uma queda abrupta de terreno. Terra. Só terra. Olhei para cima e vi como os ramos mais altos dos eucaliptos eram abanados pelo vento. Faziam barulho. Um barulho que parecia água. Água a cair.

Thursday, December 31, 2009

Como imagino a primeira vez que fizermos sexo



Para a L.


Considero-me um optimista. Desde que tenho opiniões e que consigo distanciar-me o suficiente para me observar a tê-las, que me considero um optimista. Como seria de esperar, encontro alguma paz nesta assunção, mas não consigo ter a certeza se considerar-me optimista não será, em si, um sinal de optimismo. Talvez. Seja como for, não é bom ter certezas em relação a tudo. São as incertezas que esbatem os contornos, que diluem as cores. Precisamos das incertezas para não sermos geométricos e insuportáveis. Suponho que considerar a hipótese de algum dia fazermos sexo pela primeira vez é também um sinal desse mesmo optimismo. Não há garantias. Aquilo que imaginamos é responsabilidade nossa. É apenas certo que te materializaste a distância suficiente para que te abraçasse. Depois, pareceu-me que o teu corpo cabia perfeitamente nos meus braços. A perfeição, a perfeição, sei que ambos somos capazes de rir-nos dessa palavra.

Há tanto que já aconteceu antes. Há palavras repetidas que, no momento de serem ditas, parece que chegam de outras idades. Há frases que chegam de momentos específicos, que regressam inteiros no momento em que digo ou oiço essas mesmas frases. A intrusão desses momentos faz com que me sinta estranho em mim, como se os meus olhos, de repente, fossem atravessados por um olhar que me pertenceu há anos mas que, agora, é de outra pessoa. Chega desta conversa. Se ainda não percebeste, explico-te melhor quando estivermos juntos. Agora, acredito que deves ter mais curiosidade de saber como imagino a primeira vez que fizermos sexo.

Vai ser na minha casa. Vamos estar a beijar-nos no sofá. Ainda não sei bem se gosto que me mordas a língua. Da última vez, vieram-me lágrimas aos olhos. Acho que não notaste, escondi-as, mas, acredita, estavam lá. Aquilo que me parece é que, neste momento, gosto de tudo o que me queiras dar, mesmo que sejam dentadas na língua que me põem lágrimas nos olhos, que ultrapassam aquela fronteira em que a dor é cómoda e chegam à dor-dor. Esta é a situação actual, mas, espero que saibas, não será sempre assim. Por favor, não deixes que esta informação te iniba. Podes morder-me a língua. Podes morder-me onde quiseres.

As minhas mãos. Tu ainda não conheces bem as minhas mãos. Sei que tens uma ideia sobre elas, mas ainda não as conheces muito bem. Eu próprio me surpreendo com elas frequentemente. As minhas mãos vão procurar as formas do teu corpo. Gosto de começar por perceber a dimensão das coisas. Vou segurar-te nos ombros, nos braços, na barriga de lado, nas ancas e nas pernas. A escolha destes lugares do teu corpo não tem nada a ver com a procura de um crescendo, com uma gradação que, no seu auge, chegue a lugares mais intímos e/ou pornográficos. Aliás, não chegarei a estes lugares pela escolha, mas sim pelo instinto. Eu conheço os meus instintos, os bons e os maus, os que me fortalecem e os que me enfraquecem. Gosto de todos, não os contrario, todos fazem parte de mim, sou todos eles. Mais, nos teus ombros, braços, barriga, ancas e pernas estarei já inteiro. Nesse momento, não terei ainda a certeza de que iremos, de facto, fazer sexo.Não estarei preocupado. Não consigo imaginar-me preocupado enquanto estiver a beijar-te, a abraçar-te e enquanto as minhas mãos estiverem no teu corpo. Estar preocupado significaria estar longe de ti. Contigo, não consigo estar longe de ti. Contigo, apenas sou capaz de estar contigo.

Posso desabotoar-te as calças? O momento em que tiver nos dedos o botão das tuas calças será determinante. Se sentir que me facilitas o gesto que farei com o polegar e o indicador, se não sentir a tua mão a afastar a minha, será dado um grande passo entre nós. É claro que eu não pensarei isto com estas palavras. Estes pensamentos apenas são possíveis porque estou aqui, longe, e porque a minha mente se aventura por caminhos desaconselháveis. Baixar-te as calças com as duas mãos.

Certezas que tenho:
- A tua pele é suave.
- As minhas pernas cabem no interior das tuas.
- Aguento o teu peso com facilidade.
Vou querer abrir os olhos para, em instantes, ver o teu rosto. Vou querer guardar essas imagens paradas, fotografias do teu rosto. Após um vinco na respiração, entraremos num mundo que se construirá à nossa volta, um mundo que se propagará a partir de nós. Deixaremos de saber os nossos próprios nomes.

O meu corpo pesado, lançado pelos meus braços para o teu lado. Quanto tempo passou? Onde estamos? Enquanto recuperarmos a respiração, estaremos cheios de perguntas.

Além disso, há este texto. Se chegarmos a fazer sexo, há a possibilidade deste texto interferir, de nos sentirmos na obrigação de contrariar os seus detalhes para o garantirmos como ficcional e não nos acharmos previsíveis. Então, não me irás morder a língua, não ficaremos no sofá e não me deixarás desabotoar-te as calças, irás tu própria desabotoá-las. Mais tarde, daqui a semanas ou meses, falaremos deste texto e será como uma piada. Iremos rir-nos da própria dedicatória: para a L. Iremos, pelo menos, sorrir. Tudo estará bem se, semanas ou meses após termos feito sexo pela primeira vez, estivermos juntos a rir ou a sorrir.

Se nunca chegarmos a fazer sexo, este texto continuará a existir. Se tiver de ser assim, espero que estas palavras não tenham qualquer interferência com essa possibilidade, que ficará no lugar invisível onde se acumulam todas as possibilidades que nunca se concretizaram. Seria bastante rebuscado que este texto impedisse esse encontro, mas já me surpreendi com coisas bastante menos surpreendentes. Em todas elas, a vida e o tempo continuaram. Se assim for, se assim não for, espero que a memória deste texto seja a memória destes dias e que, dessa maneira, seja algo de bom, que nos faça bem, e que, nesse futuro, sozinhos ou acompanhados por rostos que agora desconhecemos, sejamos capazes de um sorriso que mais ninguém entenda e que não tentaremos explicar a ninguém.

Como imagino a primeira vez que fizermos sexo
by José Luís Peixoto

in Em busca da Felicidade: Dez histórias

Tuesday, December 22, 2009

Don't hate the player, hate the game!




Há mais de um milhão de utilizadores da rede social Facebook em Portugal. Se arredondarmos o total da população portuguesa para dez milhões, isso significa que uma em cada dez pessoas tem lá uma conta aberta. Sejas quem fores, tens dez por cento de probabilidades de também teres. E se tiveres, não te sintas mal porque não estás sozinho... A palavra "facebook" foi a mais procurada nos motores de pesquisa da Internet em 2009 e esta rede social conseguiu ultrapassar a  fasquia dos 350 MILHÕES (!) de utilizadores.

Os números são deveras impressionantes assim como a história de como esta rede social começou pela mão de um puto frustrado que estudava em Harvard -que, aliás, já deu filme com direito a protagonista estrela e tudo- e se fosse por isso que hoje estou cansada de ouvir falar em Facebook até seria compreensível. Seria lógico partir destes números para tentar descortinar o que é que há de especial no Facebook ou porque é que de repente o mundo acha que não consegue passar sem ele, mas não é disso que se quer falar quando se põe facebook no título de uma notícia.

Pus agora facebook no Google. Clico no Enter e voilá! Resultados 1 - 10 de cerca de 2.070.000.000 para facebook. (0,20 segundos) Mais de dois biliões de resultados em menos de meio minuto. Se optar pela opção Notícias para a minha pesquisa no Google fico hoje a saber que a Courtney Love criticou a filha no Facebook e que a rede social é referida em 20 por cento dos pedidos de divórcio online na Grã- Bretanha. Mas a verdadeira notícia para mim, em termos de ser surpreendente, é não encontrar nada do Miguel Sousa Tavares a dizer que o Facebook é a maior ameça do século. Realmente isso já não é notícia, ele já o disse muitas vezes e em meios diferentes, e em todas, eu fiquei sempre estupefacta. Talvez num dia de menor inspiração  o tópico lhe tenha servido como a conta de lavandaria que se dobra e coloca por baixo da perna da mesa que está a balançar. Se assim fosse era fácil deixar passar, mas em vez disso usa o tema Facebook como uma bandeira. Orgulha-se de ser ele contra os tais 350 milhões de utilizadores. Com certeza dá-lhe assim uma certa pica não fazer parte das massas.




Fico mesmo lixada. Não é que o Facebook seja uma coisa boa, mas também não é assim tão má. Mais do que qualquer outra coisa, o Facebook não é assim tão importante, raios! As guerras, a fome, o desemprego, a pobreza, o analfabetismo, as mudanças climáticas... mas não, o Facebook, essa é que é a maior ameaça dos nossos tempos! É disso que uma figura pública com acesso a canais de divulgação privilegiados deve falar, é essa a problemática para que deve alertar! Será que o Miguel Sousa Tavares já foi aos Armazéns do Chiado e viu as pessoas que estão lá à espera de comer os restos de comida que deixamos nos tabuleiros abandonados à pressa em cima da mesa? Ou foi beber um copo ao Bairro Alto e viu velhas inchadas a arrastarem-se enroladas em xailes velhos até ao caixote de lixo mais próximo? E se o fez, se o viu, isso não lhe pareceu digno de importância? Às vezes parece-me que andamos vazios, outras vezes que estamos podres por dentro.

Tive uma experiência profissional terrível durante seis meses. Não me dava nada com a minha superior e era um massacre acordar sabendo que teria de passar o meu dia com uma pessoa que se pudesse me passaria por cima com uma cilindradora adorando cada minuto do processo. Certo dia, o big boss chamou-me e no meio de uma conversa sobre a minha situação problemática ele disse que o maior sinal de inteligência que alguém podia ter era a escolha das coisas que valorizava como importantes. Ele queria dizer que não me devia focar no mau ambiente mas no trabalho e eu com esta história quero dizer que nunca vou gastar um cêntimo num livro do Miguel Sousa Tavares.

Já estou farta de ouvir falar do facebook, mas não estou farta dele. Sim, eu tenho facebook, e estamos a chegar a um ponto em que dizer isto é quase como dizer Olá, eu sou a Ana, tenho 25 anos e sou alcoólica. É uma confissão embaraçosa. "Ah, tu perdes tempo com isso? Não deves ter vida própria! Que triste andar a mostrar a vida assim". Não vou justificar a existência da minha página pessoal do facebook, nem o gozo que ela já me deu e ainda me dá . Não me sinto mais comum, nem mais parte da carneirada por lá estar. O que me deixa triste quando penso no Facebook é a sociedade de que ele é mera consequência e reflexo.




Andamos à procura das coisas certas nos sítios errados. Queremos encontrar amigos e amores num écran de computador. É mais higiénico e bem menos arriscado. Se não correr bem, basta fazer um "unfriend". Em vez de fazermos alguma coisa pela vida, criamos no Facebook o grupo dos que querem fazer pela vida enquanto o rabo vai engordando na cadeira de sempre do escritório de sempre. Asséptico, controlado, cheio de edulcorantes e aditivos, onde o conceito de fruta está a evoluir para uma papa dentro de um boião e arriscar é pôr uma foto menos bem... Eu não odeio o Facebook, odeio sim o mundo que o criou.


Friday, December 18, 2009

A tua pequena dor


















a tua pequena dor


quase nem sequer te dói

é só um ligeiro ardor

que não mata mas que mói



é uma dor pequenina

quase como se não fosse

é como uma tangerina

tem um sumo agridoce



de onde vem essa dor

se a causa não se vê

se não é por desamor

então é uma dor de quê?



não exponhas essa dor

é preciosa é só tua

não a mostres tem pudor

é o lado oculto da lua



não é vicío nem costume

deve ser inquietação

não há nada que a arrume

dentro do teu coração



talvez seja a dor do ser

só a sente quem a tem

ou será a dor de ver

a dor de ir mais além?



certo é ser a dor de quem

não se dá por satisfeito

não a mates guarda bem

guardada no fundo do peito.




by Carlos Tê e Rui Veloso