Quando desembarcou em São Jorge, Angeline, the prettiest mess you've ever seen, estava bem à altura do seu nome. Durante uma viagem de seis horas num grande imbróglio de ferrugem que gemia e tremia como um cobarde, tivera tempo para perceber a sua situação: não é que tivesse andado à procura do amor, mas tinha-o encontrado. No lugar errado. E por isso, toda ela estava agora em carne viva.
No porto das Velas, mais do que o grande saco de desporto, o que ela carregava verdadeiramente era o peso das memórias e das perguntas que elas geravam. De tudo, o que mais lhe custava aguentar era a sensação de se ter enganado. Sim, era uma mulher orgulhosa. Considerava-se perspicaz o suficiente para distinguir à distância um gracejo de uma palavra sincera - eu bem lhe disse que essa altivez seria o motivo da sua queda. Mas, mais do que tudo, foi o seu coração demasiado benevolente que a baptizou. Foi a sua sede de aventura que a levou para o buraco onde está agora. Pensou que era diferente sem perceber que o que realmente pensava era que ela era melhor do que nós.
Angeline era assim, não negava uma oportunidade a ninguém a quem quisesse dar uma oportunidade. E ria disso, como ria de si própria. Pensava no quanto a vida era excitante e tentava descobrir o que é que havia em si que tanto atraia e fascinava as outras pessoas jurando que, se algum dia a conseguisse encontrar, que cortaria fora essa sua parte e mandaria à sua amada prostituta. Tal como Van Gogh.
Quando Angeline conheceu a prostituta ia assim, a rir, sem pensar, acreditando que era esse o seu grande trunfo: não querer nada da vida e muito menos dela. Mas depois do primeiro encontro, começou a haver medo no seu coração. Disse-me uma vez enquanto fumávamos um charro na Baía da Salga que já sabia de cor todas as canções preferidas da prostituta. Não gostava da maior parte, mas dava por si a ouvi-las no carro e a falar delas aos amigos.
Eu disse-lhe para parar, ela respondeu que ia pôr o pé bem lá no fundo do acelerador. Olhem para ela agora. É aquela ali, com o saco de desporto e o coração despedaçado.
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