Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Thursday, December 17, 2009

Volta a 2009 em 10 posts: A força (III)



Prometi que nunca mais escreveria uma só linha sobre ti, mas vou agora quebrar essa promessa. Fi-la a mim mesma porque me recusava a dar-te o gostinho de saberes que tinha pensado em ti e consegui cumpri-la não por despeito, mas porque consegui tirar-te da cabeça e, quando se sai, é de vez.  Mas eis-me aqui a ver 2010 já depois daquela esquina e quero fechar os capítulos dentro de mim: Volta a 2009 em 10 posts....

2009 tem a tua cara e por isso demorou a passar. Porque, mesmo quando te fechei todas as portas, cá dentro algo ficou partido. Eu, que sempre me defini como uma feeling machine, sentia-me estragada.

Todos os dias oiço histórias de pessoas como tu que dizem amo-te para tirarem da outra as mesmas palavras e assim dormirem sorridentes sentindo-se alguém. Com um ego que se alimenta de saber que alguém neste mundo as quer. Pessoas que nos estendem a mão para que as agarremos só para nos empurrar para o chão a seguir. Sim, eu caí e demorei algum tempo a perdoar-me por o ter feito.

Por mais que me dissessem que é normal e acontece a toda a gente, isso não me aliviava a dor. Nem a raiva. Pensava nessa miúda tola que te ouvia e percebia a malvadez desculpando-a em simultâneo. Contigo descobri o quanto o espírito feminino que tudo justifica e perdoa pelo amor pode ser nefasto.

Nas cartas de amor tu só viste erros ortográficos, nas loucuras que fiz por ti, casualidades. E mesmo assim eu continuei apaixonada.

Nos concertos todas as canções te evocavam e pediam um gesto meu.Tentei resistir como pude. Pedia mais uma cerveja e de copo na mão desviava o olhar para o céu. Fumava um cigarro e dizia a mim própria que ia deixar passar mais uma música. Daí a duas ou três já não me lembraria de ti. Mas o concerto acabava, eu cedia e revelava-me.

Um amigo disse-me que tinha duas hipóteses: ou era capaz de me rir da história logo ali ou então passaria o próximo ano a choramingar. Assim foi, deixei de chorar quando consegui começar a rir e ri muito de ti até que deixaste de ter piada. Ri-me das tuas pernas fininhas encimadas por um tronco pesado e redondo, mas sobretudo ri-me da língua nervosa que teimavas em enfiar na minha boca e chamar isso de beijo.

Claro que também me ri de mim e foi aí que veio a compaixão por essa rapariga que mais uma vez pôs a cabeça na guilhotina e assim desafiou todas as negras ideias feitas sobre o amor. Se, como uma vez escrevi neste blogue, o amor já não tem poesia no século XXI quando me lembro dessa rapariga admiro-a mesmo. Não é que ela seja melhor do que ninguém, não é que haja heróis e vilões nesta história. Gosto dela porque foi sempre capaz de dizer o que pensava, na altura certa pôs um ponto numa história que não teria um final feliz e aprendeu que por mais que queiramos que o mundo seja uma fila de arco-irís uns atrás dos outros onde só chovem marshmellows e cherry coke, há dias em que para sobreviver uma gaja tem de ser uma bitch. E não há mal nenhum nisso ;)

 

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