Um carro segue a velocidade constante e agradável pela estrada fora. Sozinho. Com tempo para ver a paisagem: dois ilhéus do lado direito e um mar imenso que brilha como prata. A rádio grita os seus sons preferidos sem se preocupar com o gosto de passageiros ou transeuntes porque estamos sozinhos. E basta um carro, um só, para quebrar o feitiço. Fazer-nos baixar o som e deixar-nos a pensar em coisas tão corriqueiras como se vamos ser ultrapassados ou não.
Com o Mau Amor aconteceu uma coisa parecida. Era um blogue que seguia o seu caminho sem se preocupar com camaradas de estrada, seguidores ou audiências. Na sua solidão encontrava a liberdade. Assim, conseguia abrir o coração ao mundo e isso é muito diferente de abrir o coração ao João, à Maria ou à Isabel.
O mundo não nos diz que devemos mudar de nome, que devemos pôr mais fotos ou que, se calhar, não nos devíamos expor tanto. Lá está, o Mau Amor quer falar com o mundo porque o mundo não o vai julgar. Apontar destinos no mapa. Ou reparar que o carro está a precisar de uma limpezazita.
O Mau Amor não é um livro, logo não se vai vender. Não é um jornal porque não lhe interessa falar dos mais recentes acontecimentos de outras pessoas, em outros lugares.
Deixem-me apresentar-vos o Mau Amor...Arrhhumm...Arrhhumm...
Messieurs et Madames, Garçons e Garçonetes, conheci o Mau Amor num beco do Bairro Alto. Eram quatro da manhã e ele estava bêbado. Eu também. Não dissemos os nossos nomes um ao outro e fizemos o pacto de nunca o dizer, como quem conspira contra o mundo dos outros. Inventámos novos nomes por que não achávamos justo que alguém fora de nós pudesse tomar uma decisão tão importante para as nossas vidas. Chamei-o então de Mau Amor porque tinha uma cara mal humorada que, quando se abria num sorriso, prometia todo o Amor que eu conseguisse aguentar. Ele chamou-me Ana Brasil porque, quando me viu nua, disse que lhe lembrava as paisagens geladas da Rússia, mas que quando lhe sussurava ao ouvido sentia o calor de Copacabana.
Conheço bem o Mau Amor e por isso digo-vos: Ele, quando fala de outras pessoas, refere explicitamente os seus nomes ou usa um símbolo para que elas e só elas saibam de quem se está a falar. O Mau Amor não plagia, cita. O Mau Amor não lava roupa suja.
Mas a coisa mais importante a saber sobre o Mau Amor é que ele é MEU. A segunda é que ele é livre. Terceira, não lhe interessa se gostam dele. Por isso não, ele não está a referir-se a ti Joana, Manuel, Joaquim ou Ernestina. Vocês pertencem à realidade e às vossas vidinhas. O Mau Amor é a minha.
Por isso vamos continuar na estrada. Estamos com pressa mas não temos destino. Gostamos mesmo de apreciar a paisagem quando a estrada está vazia. Mais do que qualquer outra coisa, gostamos de ouvir a música aos berros e de cantar mal sem que nos possamos ouvir. Sabemos que vão aparecer outros carros na estrada, mas vamos tentar ignorar-vos. Porque, pelo menos aqui, queremos continuar a ser livres.
Atenciosamente,
A Direcção
No comments:
Post a Comment