Vou começar pelo princípio. Os primórdios do Mau Amor remontam a 1993. Estava na quarta classe e ele tinha um nome esquisito e uma irmã feia de que eu não gostava. Lúcio Carapeta, alto, de cabelo liso, apanhado atrás das orelhas e sempre a mastigar pastilha elástica. Lembro-me dele assim. Vou ser directa: era um jeitosaço. Mais de quinze anos depois, imagino que tenha uma barriga de cerveja e um filho precoce algures.
Eu e ele éramos então dos poucos miúdos que chegavam às folhas das amoreiras que ainda crescem no espaço em frente à escola. Hoje, quando passo por lá, lembro-me disso rindo, vendo que, se estiver distraída, ainda levo com um galho na cabeça. Mas sobretudo, lembro-me do dia em que ele, sabendo que eu "gostava" dele, decidiu tomar uma atitude e pegar o touro pelos cornos: eu. Estávamos em frente à escola e ele começou a correr atrás de mim para me dar um beijo. Sim, ele teve de correr, porque assim que percebi o avanço, comecei a correr à volta de um banco de jardim a tentar fintá-lo. Passei a aula em pânico a pensar no intervalo da tarde que se aproximava. Fui a primeira a sair da sala quando a campainha tocou e escondi-me dentro do cubículo da garrafa de gás, apertadinha, a ouvi-lo lá fora à minha procura. Depois amuou e desistiu. Ufa!
O segundo momento importante do Mau Amor viria pouco tempo depois. Estava a curtir o meu Dia da Criança num baloiço, no Relvão -assim chamado por ser um grande espaço relvado com escorregas e afins-, quando um colega me chamou nomes. Claro que me levantei, persegui-o até o apanhar, o que aconteceu quando ele caiu, e, estando no chão, eu aproveitei para lhe pregar uns bons pontapés. Quando voltámos para a escola passaram-me um bilhete dele. Uma folhinha de papel onde eu esperava encontrar um desafio para um duelo depois da escola ou uma ameaça do género "Vou dizer tudo à minha mãe! Estás fudida! (quarta classe, remember?)". O que eu não esperava mesmo era encontrar o que encontrei: um pedido de namoro.
Como todas as aulas têm um sumário, não consigo escapar à tentativa de uma conclusão. A mais fácil seria que o meu Amor sempre foi difícil. Para mim, sobretudo, mas para os outros também. Mas que deu sempre uma história engraçada para contar.
Raspando um pouco mais a superfície, diria que o Amor sempre me assustou muito, quase tanto como me fascina. A capacidade de surpreender, as histórias que tem para contar, como pode surgir no recanto mais inesperado, como pode ser tudo num minuto e nada depois de quatro anos. A sua inexplicabilidade, a sua violência, a sua doçura, a resistência e a entrega.
Estava a tentar fazer uma lista das minhas coisas preferidas no mundo inteiro, e, matando o suspense à partida, o Amor é a primeira. Esqueçam as crianças, o Amor é a melhor coisa do mundo. Fica aqui um primeiro esboço em que vou trabalhar nos próximos dias.
1- Estar quente e aconchegada no braço de alguém que se ama
2- Ouvir Amo-te pela primeira vez de alguém que se ama há muito tempo, pacientemente
3- Os meus amigos, amo-os perdidamente. É um poço sem fundo.
4- Música
5- Rir
6- Sonhar com o futuro
7- Lembrar-me do passado
8- Dançar ritmos eletrónicos ao ar livre em noites de Verão estreladas (de preferência, enfrascada)
9- Palavras
10- Gelado de after8 e caramelo ou cookie dough do Ben&Jerry's
It's a work in progress...
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