Lamento. Hoje não há poemas. Se estão à procura disso, é melhor ficarmos por aqui. Hoje o céu está a cair e, por mais que eu quisesse ver estrelas e possibilidades remotas, só consigo ver os estilhaços do Universo a aproximarem-se depressa. Parecem cortantes. Afiados.
Há dias assim. A maior parte das pessoas não gosta de falar deles. Mais, a maior parte das pessoas não gosta de ouvir falar deles. Preferimos todos dizer "Tudo", quando nos perguntam à pressa "Tudo bem?", ou "Estás boa?".
Eu não sou a maior parte das pessoas (mas gostava mesmo de ser). Eu odeio quando me perguntam se está tudo bem, porque sei que, do outro lado, se espera que eu diga "Tudo". E muitas vezes não está. E não há nada de mal nisso.
Não me digam para me alegrar. Não me digam que amanhã será melhor. Eu sei disso. Mas, hoje, o céu está a cair. E eu não vou fechar os olhos. Vou abri-los ao máximo e, com eles bem abertos, vou olhar para os pedaços que caiem e tentar absorver todos os pormenores das suas formas. Vou tentar perceber se se deslocam à mesma velocidade e não me vou desviar um centímetro sequer para os evitar. Vou sentir a dor e fazer por me lembrar dela.
As malas ainda estão abertas, esventradas, no chão, de frente para a cama. Antes, não pareciam ter grande importância. Mas, agora que o céu está a cair, têm. Em breve, quando tudo tiver caído por terra, será altura de mais uma vez dobrar perfeitamente a roupa antes de a pôr nas malas e depois a deixar acumular em cima de uma cadeira noutro sítio qualquer.
Neruda escreveu "Hoje poderia escrever os poemas mais tristes". Eu lamento, mas hoje não consigo escrever poemas. Hoje, o céu está a cair.
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