Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Tuesday, October 07, 2008

Rearview Mirror

Era Setembro e estávamos a discutir. Era 11 de Setembro. O 11 de Setembro. E no meio das minhas angústias um avião foi contra uma das Twin Towers. Porque é que as coisas estão diferentes entre nós? Porque é que não páras para falarmos como deve ser? Eu amo-te muito. Um segundo avião foi contra as torres americanas. As pessoas saltavam de muitos andares de altura para fugir às chamas. Estatelavam-se no chão. O jornalista estava alucinado. Era um momento que faria parte da História. Era o "furo" da vida dele. Disseste "olha". Disseste "epá, isto é inacreditável" e eu respondi porque é que já não me amas?
Este foi o meu 11 de Setembro. É assim que me vai ficar na memória. Estávamos na sala da casa dos teus pais. Havia aquele lustre feito de conchinhas brancas. Só tinhas vestido umas calças rasgadas nos joelhos e exibias um peito pueril enquanto fugias aos meus lamentos. Eu tinha 17 anos e para mim as imagens na televisão não importavam. Importava sim o nosso futuro. O nosso amor. Isso era tudo.
Na televisão, a marca da CNN era a única coisa que diferenciava aquelas imagens de uma cena de um filme qualquer género Diehard. Eu não conseguia ouvir os gritos das pessoas ao atirarem-se de um vigésimo quinto andar sabendo que se entregavam à morte. Eu não consegui ver o horror estampado na cara das pessoas que seguiam no avião antes de colidir. Eu não ouvi o choro nas mensagens que foram enviadas para os telemóveis da família mais próxima. Só os ouvi depois, num filme sobre o atentado terrorista.
Eu não sabia e mesmo hoje talvez não compreenda realmente todo o horror que envolveu o negro 11 de Setembro. Não o senti. Mas lembro-me daquele peito suave sem vestígios de pêlos e lembro-me da miúda que só se importava consigo própria.