Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Thursday, December 31, 2009

Como imagino a primeira vez que fizermos sexo



Para a L.


Considero-me um optimista. Desde que tenho opiniões e que consigo distanciar-me o suficiente para me observar a tê-las, que me considero um optimista. Como seria de esperar, encontro alguma paz nesta assunção, mas não consigo ter a certeza se considerar-me optimista não será, em si, um sinal de optimismo. Talvez. Seja como for, não é bom ter certezas em relação a tudo. São as incertezas que esbatem os contornos, que diluem as cores. Precisamos das incertezas para não sermos geométricos e insuportáveis. Suponho que considerar a hipótese de algum dia fazermos sexo pela primeira vez é também um sinal desse mesmo optimismo. Não há garantias. Aquilo que imaginamos é responsabilidade nossa. É apenas certo que te materializaste a distância suficiente para que te abraçasse. Depois, pareceu-me que o teu corpo cabia perfeitamente nos meus braços. A perfeição, a perfeição, sei que ambos somos capazes de rir-nos dessa palavra.

Há tanto que já aconteceu antes. Há palavras repetidas que, no momento de serem ditas, parece que chegam de outras idades. Há frases que chegam de momentos específicos, que regressam inteiros no momento em que digo ou oiço essas mesmas frases. A intrusão desses momentos faz com que me sinta estranho em mim, como se os meus olhos, de repente, fossem atravessados por um olhar que me pertenceu há anos mas que, agora, é de outra pessoa. Chega desta conversa. Se ainda não percebeste, explico-te melhor quando estivermos juntos. Agora, acredito que deves ter mais curiosidade de saber como imagino a primeira vez que fizermos sexo.

Vai ser na minha casa. Vamos estar a beijar-nos no sofá. Ainda não sei bem se gosto que me mordas a língua. Da última vez, vieram-me lágrimas aos olhos. Acho que não notaste, escondi-as, mas, acredita, estavam lá. Aquilo que me parece é que, neste momento, gosto de tudo o que me queiras dar, mesmo que sejam dentadas na língua que me põem lágrimas nos olhos, que ultrapassam aquela fronteira em que a dor é cómoda e chegam à dor-dor. Esta é a situação actual, mas, espero que saibas, não será sempre assim. Por favor, não deixes que esta informação te iniba. Podes morder-me a língua. Podes morder-me onde quiseres.

As minhas mãos. Tu ainda não conheces bem as minhas mãos. Sei que tens uma ideia sobre elas, mas ainda não as conheces muito bem. Eu próprio me surpreendo com elas frequentemente. As minhas mãos vão procurar as formas do teu corpo. Gosto de começar por perceber a dimensão das coisas. Vou segurar-te nos ombros, nos braços, na barriga de lado, nas ancas e nas pernas. A escolha destes lugares do teu corpo não tem nada a ver com a procura de um crescendo, com uma gradação que, no seu auge, chegue a lugares mais intímos e/ou pornográficos. Aliás, não chegarei a estes lugares pela escolha, mas sim pelo instinto. Eu conheço os meus instintos, os bons e os maus, os que me fortalecem e os que me enfraquecem. Gosto de todos, não os contrario, todos fazem parte de mim, sou todos eles. Mais, nos teus ombros, braços, barriga, ancas e pernas estarei já inteiro. Nesse momento, não terei ainda a certeza de que iremos, de facto, fazer sexo.Não estarei preocupado. Não consigo imaginar-me preocupado enquanto estiver a beijar-te, a abraçar-te e enquanto as minhas mãos estiverem no teu corpo. Estar preocupado significaria estar longe de ti. Contigo, não consigo estar longe de ti. Contigo, apenas sou capaz de estar contigo.

Posso desabotoar-te as calças? O momento em que tiver nos dedos o botão das tuas calças será determinante. Se sentir que me facilitas o gesto que farei com o polegar e o indicador, se não sentir a tua mão a afastar a minha, será dado um grande passo entre nós. É claro que eu não pensarei isto com estas palavras. Estes pensamentos apenas são possíveis porque estou aqui, longe, e porque a minha mente se aventura por caminhos desaconselháveis. Baixar-te as calças com as duas mãos.

Certezas que tenho:
- A tua pele é suave.
- As minhas pernas cabem no interior das tuas.
- Aguento o teu peso com facilidade.
Vou querer abrir os olhos para, em instantes, ver o teu rosto. Vou querer guardar essas imagens paradas, fotografias do teu rosto. Após um vinco na respiração, entraremos num mundo que se construirá à nossa volta, um mundo que se propagará a partir de nós. Deixaremos de saber os nossos próprios nomes.

O meu corpo pesado, lançado pelos meus braços para o teu lado. Quanto tempo passou? Onde estamos? Enquanto recuperarmos a respiração, estaremos cheios de perguntas.

Além disso, há este texto. Se chegarmos a fazer sexo, há a possibilidade deste texto interferir, de nos sentirmos na obrigação de contrariar os seus detalhes para o garantirmos como ficcional e não nos acharmos previsíveis. Então, não me irás morder a língua, não ficaremos no sofá e não me deixarás desabotoar-te as calças, irás tu própria desabotoá-las. Mais tarde, daqui a semanas ou meses, falaremos deste texto e será como uma piada. Iremos rir-nos da própria dedicatória: para a L. Iremos, pelo menos, sorrir. Tudo estará bem se, semanas ou meses após termos feito sexo pela primeira vez, estivermos juntos a rir ou a sorrir.

Se nunca chegarmos a fazer sexo, este texto continuará a existir. Se tiver de ser assim, espero que estas palavras não tenham qualquer interferência com essa possibilidade, que ficará no lugar invisível onde se acumulam todas as possibilidades que nunca se concretizaram. Seria bastante rebuscado que este texto impedisse esse encontro, mas já me surpreendi com coisas bastante menos surpreendentes. Em todas elas, a vida e o tempo continuaram. Se assim for, se assim não for, espero que a memória deste texto seja a memória destes dias e que, dessa maneira, seja algo de bom, que nos faça bem, e que, nesse futuro, sozinhos ou acompanhados por rostos que agora desconhecemos, sejamos capazes de um sorriso que mais ninguém entenda e que não tentaremos explicar a ninguém.

Como imagino a primeira vez que fizermos sexo
by José Luís Peixoto

in Em busca da Felicidade: Dez histórias

Tuesday, December 22, 2009

Don't hate the player, hate the game!




Há mais de um milhão de utilizadores da rede social Facebook em Portugal. Se arredondarmos o total da população portuguesa para dez milhões, isso significa que uma em cada dez pessoas tem lá uma conta aberta. Sejas quem fores, tens dez por cento de probabilidades de também teres. E se tiveres, não te sintas mal porque não estás sozinho... A palavra "facebook" foi a mais procurada nos motores de pesquisa da Internet em 2009 e esta rede social conseguiu ultrapassar a  fasquia dos 350 MILHÕES (!) de utilizadores.

Os números são deveras impressionantes assim como a história de como esta rede social começou pela mão de um puto frustrado que estudava em Harvard -que, aliás, já deu filme com direito a protagonista estrela e tudo- e se fosse por isso que hoje estou cansada de ouvir falar em Facebook até seria compreensível. Seria lógico partir destes números para tentar descortinar o que é que há de especial no Facebook ou porque é que de repente o mundo acha que não consegue passar sem ele, mas não é disso que se quer falar quando se põe facebook no título de uma notícia.

Pus agora facebook no Google. Clico no Enter e voilá! Resultados 1 - 10 de cerca de 2.070.000.000 para facebook. (0,20 segundos) Mais de dois biliões de resultados em menos de meio minuto. Se optar pela opção Notícias para a minha pesquisa no Google fico hoje a saber que a Courtney Love criticou a filha no Facebook e que a rede social é referida em 20 por cento dos pedidos de divórcio online na Grã- Bretanha. Mas a verdadeira notícia para mim, em termos de ser surpreendente, é não encontrar nada do Miguel Sousa Tavares a dizer que o Facebook é a maior ameça do século. Realmente isso já não é notícia, ele já o disse muitas vezes e em meios diferentes, e em todas, eu fiquei sempre estupefacta. Talvez num dia de menor inspiração  o tópico lhe tenha servido como a conta de lavandaria que se dobra e coloca por baixo da perna da mesa que está a balançar. Se assim fosse era fácil deixar passar, mas em vez disso usa o tema Facebook como uma bandeira. Orgulha-se de ser ele contra os tais 350 milhões de utilizadores. Com certeza dá-lhe assim uma certa pica não fazer parte das massas.




Fico mesmo lixada. Não é que o Facebook seja uma coisa boa, mas também não é assim tão má. Mais do que qualquer outra coisa, o Facebook não é assim tão importante, raios! As guerras, a fome, o desemprego, a pobreza, o analfabetismo, as mudanças climáticas... mas não, o Facebook, essa é que é a maior ameaça dos nossos tempos! É disso que uma figura pública com acesso a canais de divulgação privilegiados deve falar, é essa a problemática para que deve alertar! Será que o Miguel Sousa Tavares já foi aos Armazéns do Chiado e viu as pessoas que estão lá à espera de comer os restos de comida que deixamos nos tabuleiros abandonados à pressa em cima da mesa? Ou foi beber um copo ao Bairro Alto e viu velhas inchadas a arrastarem-se enroladas em xailes velhos até ao caixote de lixo mais próximo? E se o fez, se o viu, isso não lhe pareceu digno de importância? Às vezes parece-me que andamos vazios, outras vezes que estamos podres por dentro.

Tive uma experiência profissional terrível durante seis meses. Não me dava nada com a minha superior e era um massacre acordar sabendo que teria de passar o meu dia com uma pessoa que se pudesse me passaria por cima com uma cilindradora adorando cada minuto do processo. Certo dia, o big boss chamou-me e no meio de uma conversa sobre a minha situação problemática ele disse que o maior sinal de inteligência que alguém podia ter era a escolha das coisas que valorizava como importantes. Ele queria dizer que não me devia focar no mau ambiente mas no trabalho e eu com esta história quero dizer que nunca vou gastar um cêntimo num livro do Miguel Sousa Tavares.

Já estou farta de ouvir falar do facebook, mas não estou farta dele. Sim, eu tenho facebook, e estamos a chegar a um ponto em que dizer isto é quase como dizer Olá, eu sou a Ana, tenho 25 anos e sou alcoólica. É uma confissão embaraçosa. "Ah, tu perdes tempo com isso? Não deves ter vida própria! Que triste andar a mostrar a vida assim". Não vou justificar a existência da minha página pessoal do facebook, nem o gozo que ela já me deu e ainda me dá . Não me sinto mais comum, nem mais parte da carneirada por lá estar. O que me deixa triste quando penso no Facebook é a sociedade de que ele é mera consequência e reflexo.




Andamos à procura das coisas certas nos sítios errados. Queremos encontrar amigos e amores num écran de computador. É mais higiénico e bem menos arriscado. Se não correr bem, basta fazer um "unfriend". Em vez de fazermos alguma coisa pela vida, criamos no Facebook o grupo dos que querem fazer pela vida enquanto o rabo vai engordando na cadeira de sempre do escritório de sempre. Asséptico, controlado, cheio de edulcorantes e aditivos, onde o conceito de fruta está a evoluir para uma papa dentro de um boião e arriscar é pôr uma foto menos bem... Eu não odeio o Facebook, odeio sim o mundo que o criou.


Friday, December 18, 2009

A tua pequena dor


















a tua pequena dor


quase nem sequer te dói

é só um ligeiro ardor

que não mata mas que mói



é uma dor pequenina

quase como se não fosse

é como uma tangerina

tem um sumo agridoce



de onde vem essa dor

se a causa não se vê

se não é por desamor

então é uma dor de quê?



não exponhas essa dor

é preciosa é só tua

não a mostres tem pudor

é o lado oculto da lua



não é vicío nem costume

deve ser inquietação

não há nada que a arrume

dentro do teu coração



talvez seja a dor do ser

só a sente quem a tem

ou será a dor de ver

a dor de ir mais além?



certo é ser a dor de quem

não se dá por satisfeito

não a mates guarda bem

guardada no fundo do peito.




by Carlos Tê e Rui Veloso

Thursday, December 17, 2009

Volta a 2009 em 10 posts: A força (III)



Prometi que nunca mais escreveria uma só linha sobre ti, mas vou agora quebrar essa promessa. Fi-la a mim mesma porque me recusava a dar-te o gostinho de saberes que tinha pensado em ti e consegui cumpri-la não por despeito, mas porque consegui tirar-te da cabeça e, quando se sai, é de vez.  Mas eis-me aqui a ver 2010 já depois daquela esquina e quero fechar os capítulos dentro de mim: Volta a 2009 em 10 posts....

2009 tem a tua cara e por isso demorou a passar. Porque, mesmo quando te fechei todas as portas, cá dentro algo ficou partido. Eu, que sempre me defini como uma feeling machine, sentia-me estragada.

Todos os dias oiço histórias de pessoas como tu que dizem amo-te para tirarem da outra as mesmas palavras e assim dormirem sorridentes sentindo-se alguém. Com um ego que se alimenta de saber que alguém neste mundo as quer. Pessoas que nos estendem a mão para que as agarremos só para nos empurrar para o chão a seguir. Sim, eu caí e demorei algum tempo a perdoar-me por o ter feito.

Por mais que me dissessem que é normal e acontece a toda a gente, isso não me aliviava a dor. Nem a raiva. Pensava nessa miúda tola que te ouvia e percebia a malvadez desculpando-a em simultâneo. Contigo descobri o quanto o espírito feminino que tudo justifica e perdoa pelo amor pode ser nefasto.

Nas cartas de amor tu só viste erros ortográficos, nas loucuras que fiz por ti, casualidades. E mesmo assim eu continuei apaixonada.

Nos concertos todas as canções te evocavam e pediam um gesto meu.Tentei resistir como pude. Pedia mais uma cerveja e de copo na mão desviava o olhar para o céu. Fumava um cigarro e dizia a mim própria que ia deixar passar mais uma música. Daí a duas ou três já não me lembraria de ti. Mas o concerto acabava, eu cedia e revelava-me.

Um amigo disse-me que tinha duas hipóteses: ou era capaz de me rir da história logo ali ou então passaria o próximo ano a choramingar. Assim foi, deixei de chorar quando consegui começar a rir e ri muito de ti até que deixaste de ter piada. Ri-me das tuas pernas fininhas encimadas por um tronco pesado e redondo, mas sobretudo ri-me da língua nervosa que teimavas em enfiar na minha boca e chamar isso de beijo.

Claro que também me ri de mim e foi aí que veio a compaixão por essa rapariga que mais uma vez pôs a cabeça na guilhotina e assim desafiou todas as negras ideias feitas sobre o amor. Se, como uma vez escrevi neste blogue, o amor já não tem poesia no século XXI quando me lembro dessa rapariga admiro-a mesmo. Não é que ela seja melhor do que ninguém, não é que haja heróis e vilões nesta história. Gosto dela porque foi sempre capaz de dizer o que pensava, na altura certa pôs um ponto numa história que não teria um final feliz e aprendeu que por mais que queiramos que o mundo seja uma fila de arco-irís uns atrás dos outros onde só chovem marshmellows e cherry coke, há dias em que para sobreviver uma gaja tem de ser uma bitch. E não há mal nenhum nisso ;)

 

Monday, December 14, 2009

Volta a 2009 em 10 posts: A inocência (II)

-Olha.
Ele já estava de pé.
- O que foi?
- É o Oceano Atlântico (risos).



Do lado de fora da varanda, o sol já ia alto por cima da Silveira.

- Anda, Nastenka.
- Não sei se gosto de Nastenka...
- Porquê?
- Faz-me pensar em "you stink".

Ri e tapei-me outra vez. Afinal, não havia motivos para ter receio da manhã.

Monday, November 30, 2009

The big L




Tenho saudades do amor.

Tive sorte. Durante a maior parte da minha vida estive apaixonada por alguém. Não consigo dizer se estive mais apaixonada por um do que por outro. Acho que o amor é tão diferente conforme as pessoas envolvidas. De igual o amor tem a incrível capacidade de tornar tudo mais vivo. As cores são mais brilhantes, as palavras ganham o seu verdadeiro sentido. O amor desperta-nos de uma dormência em que não sabíamos que estávamos.
As coisas mais bonitas e corajosas da minha vida, fi-las por estar apaixonada. Agora, olhando para trás, parecem tão loucas! Mas naquela altura, quando eu vivia com o amor, fazê-las era como respirar: natural e imprescindível ao mesmo tempo. E as fotografias? A rapariga e o rapaz que estão nelas? São pessoas melhores do que somos agora. Tão bonitas e perfeitas... tanto quanto se pode ser bonito e perfeito.

Pensei que tirar umas férias do amor seria bom. Poderia finalmente concentrar-me nas coisas que supostamente são as mais importantes, mas descobri que quando o amor desaparece não há nada que o possa substituir. Por mais que se ame um ofício, uma arte, um amigo, um irmão, quando não estamos apaixonados fica sempre um vazio que nenhuma outra coisa pode preencher. Há dias em que parece que esse vazio nos vai engolir de tão grande que é e de tão pequenos e ridículos que nos sentimos seguindo pela rua acima a caminho de casa.
A Lua agora é apenas um satélite da Terra. Gira à nossa volta enquanto nós giramos em torno do Sol. Somos massa, em maior ou menor escala, girando num universo imenso e sem sentido. Chamem-me uma miúda tonta, mas... Eu tenho saudades do amor.

Wednesday, November 25, 2009

O que o Pedro Paixão sabe sobre os homens

Chateda com a futilidade do meu post O que eu (não) sei sobre os homens, deparei-me hoje com algo que se aproxima mais daquilo que eu queria dizer e não disse, seja por receio ou incapacidade:

"Os homens são uns parvos. Não se conseguem entregar por completo ao amor. Têm sempre o trabalho ou outra desculpa do género. Preocupam-se com o que não estão a fazer. Para eles o amor pode ser um inimigo. Um inimigo há muito derrotado mas de que ainda têm medo. As mulheres são diferentes. Para elas o amor nunca é demais. Não atrapalha. É que não conseguem viver com uma alma só para elas". (...)

Uma pancada na água in Nos teus braços morreríamos by Pedro Paixão


Friday, November 20, 2009

Contornos difusos



(...)
Tinham chegado ao lance de escadas no terraço que dava para a estufa. Quando a porta de vidro se fechou sobre Dorian, Lord Henry voltou-se e fitou a duquesa com os seus olhos lânguidos.
-Estás muito apaixonada por ele?- perguntou.
Ela não respondeu logo, contemplando demoradamente a paisagem.
-Quem me dera saber- disse, por fim.
Ele abanou a cabeça.
-O conhecimento seria fatal. É a incerteza que nos seduz. Uma névoa torna as coisas encantadoras.
-Podemos perder-nos no caminho.
-Todos os caminhos acabam a dada altura, minha querida Gladys.
-Que altura?
-A da desilusão.
(...)

The portrait of Dorian Gray by Oscar Wilde

O que eu (não) sei sobre os homens...


O título deste post é o mesmo de uma rubrica da revista Pública que leio todos os domingos. Uma vez por semana gosto de descobrir o que esta ou aquela cara famosa sabe ou pensa saber sobre o sexo oposto, mas quase sempre acabo a página desiludida. Afinal, não se sabe muito a respeito do nosso yin e yang, ou será que, pelo contrário, não somos assim tão diferentes?

Já há algum tempo que faço o desafio a mim própria, mas sempre que arranjo um adjectivo que considero qualificar os homens, essa raça quase alienígena para as mulheres, lembro-me de um caso que o contradiz. Porque tanto os homens como as mulheres são um mundo, há-os de todas as formas e feitios e não há um só saco onde caibam todos. Por isso, não tentemos fazê-lo... O resultado seria uma generalização absurda, aliás, como o são todas as generalizações.

Cada mulher traz os "seus" homens estampados na cara. São eles que produzem aquelas rugas profundas na cara das mulheres à medida que o tempo avança. Os mesmos que dão aquele brilho nos olhos que as mulheres irradiam depois de uma noite bem passada. Uma mulher bonita e feliz é uma mulher que encontrou um bom homem ou então uma que não está à procura dele- o que é raro!

Se bem que de maneira geral as pessoas com quem nos cruzamos durante a vida acabam sempre por deixar alguma marca, só os homens têm o poder de nos destruir ou erguer com apenas algumas palavras. Menos do que isso até. O homem é a coisa mais importante na vida de uma mulher e, na minha opinião, é por isso que as mulheres ainda não chegaram aos lugares de topo da sociedade. Porque o namorado, o marido, o filho vem sempre primeiro. Uma mulher deixa de ir às aulas para estar com o namorado, deixa de ir trabalhar por causa do filho doente, deixa tudo pelo marido. É preciso que alguém o faça e esse alguém é uma mulher.

Há qualquer coisa na mulher que faz com que fique acordada madrugada dentro à espera que o marido chegue a casa. Tem tanto medo de o perder que deixa de fazer Erasmus para não estar longe dele, não corta o cabelo porque ele gosta dele comprido. Os anos passam e a este ritmo ela vai tornar-se em mais uma daquelas velhotas com cara de ameixa furiosa. Sim, não foste retribuída na mesma medida. Sim, foste enganada uma ou duas vezes. Sim, não te deram o devido valor e agora é tarde demais. Mas mesmo que não fosse, se pudesses voltar atrás, darias tudo de ti outra vez.  

Não façamos o elogio da mulher. Todas sabemos que deste lado não há só santas. Mas nunca conheci uma que tivesse dito a um homem que o ama para o levar para a cama nem que tivesse dito que era solteira quando não era. Não fazem promessas que não tencionam cumprir. Não precisam de o fazer, é verdade. Os homens não estão assim tão interessados no longo prazo.

Da mesma maneira, nunca encontrei um homem que tivesse chorado porque não tinha recebido um telefonema nos dias a seguir a um encontro ou porque tinha descoberto que ela afinal era casada. Os homens também choram, mas não por estas coisas. Os homens escrevem blogues, mas não sobre estas coisas.

As amigas receitam-me mais desconfiança em relação aos homens. Há pouco tempo uma disse-me que eu era ingénua, a única coisa que eu nunca pensei que me chamassem! Agradeço a preocupação, mas estou bem assim, obrigada. Sei muito bem que assim que perder a fé nos homens, quando deixar de ser "ingénua", quando começar a ter medo deles, vou estar a acelerar o meu caminho até às tais rugas enfurecidas.

A uma filha eu diria: Os homens podem dar-nos o melhor e o pior da vida, nós é que antes de mais temos de saber o que queremos que eles nos dêem.  

Wednesday, November 11, 2009

Volta a 2009 em 10 posts (I)


Hoje foi o dia da apresentação pública da nova campanha da Leopoldina. Vi a notícia na TVI - uma auto-promoção foleira encapuzada de boa vontade destinada a atingir o público onde dói mais: crianças doentes. Bah! - e mudei de canal, mas na minha cabeça recuei 365 dias até à anterior apresentação da campanha.

10 de Novembro de 2008. CCB. A ministra da Saúde, Ana Jorge, em vez de Maria Cavaco Silva. Eu sentada na plateia a tirar notas para a minha reportagem sobre campanhas de solidariedade social de grandes grupos económicos em época natalícia para o segundo caderno do Público, o meu beloved P2.

Tenho esta mania: gosto de recuar 365 dias de vez em quando. Gosto de pôr ao lado de quem sou a pessoa que eu era.

A rapariga sentada no CCB é muito diferente da que hoje viu a notícia na televisão. 2009 foi um ano extremamente difícil. Acho que digo isso todos os anos, talvez porque todos os anos as coisas ficam mais difíceis.

Este foi o ano do regresso à ilha natal. Uma redução da minha vida para uma escala quase microscópica e intolerável. Foi o ano das batalhas perdidas à partida. Tanto suor, sangue e lágrimas derramados por quase nada, apenas a possibilidade de sonhar mais um dia até ao momento em que já não é possível sonhar mais.

Sonhámos à grande em 2009! Sonhámos com cozinheiros de ditadores árabes escondidos na ilha de São Jorge. Sonhámos com fazer uma revista de viagens trendy sobre ilhas a partir dos Açores. Sonhámos com um mundo onde duas pessoas que gostam uma da outra fazem tudo para realmente estarem ao lado uma da outra.

Fizemos uma reportagem sobre gravidez precoce num bairro problemático e apanhámos piolhos. Fizémos canyonning, rappel e uma festa de aniversário surpresa para o Flávio, cinco dias depois de o pai dele ter morrido. O bolo de anos estava um pouco "abatido", mas estávamos todos juntos e isso já não acontecia há muitos 365 dias. Juntos, a fazer dos maus momentos óptimas recordações, como é nosso hábito.

Bebemos muito em 2009, mas nunca para esquecer. Sempre com um sorriso nos lábios a revelar a felicidade por baixo da superfície. Dançámos debaixo das estrelas e num dia em que usámos uma boina de tricot, fomos a um concerto e gastámos a noite com vinho tinto, Outkast e Rolling Stones no ipod. Foi então que descobrimos que tínhamos boca de preta e uma identidade russa escondida dentro de nós há 25 anos.

Sim, vocês têm razão, malta. 2009 também teve as suas coisas boas.

Monday, November 09, 2009

Mantra

Next time we meet

I'll try to remember what you said:

"Forget forever.

Our love is dead".

Monday, November 02, 2009

O pacemaker da Cidália



"(...)

Quando há muitos anos me separei, fiz o meu caminho. Conheci fanfarrões e piegas. Atirei-me aos tipos errado, fui inconveniente quando só queria ser ouvida.
Fazem-se muitos erros nesta altura. Até porque ninguém tem o conselho certo para nos dar. Andamos, vagueamos à espera de encontrar alguém ou alguma placa que nos diga o caminho certo, mas isso nunca vai surgir. O labirinto é coerente: vamo-nos perder até ao fim. No fundo, só queríamos saber se ficamos ou se seguimos em frente com a nossa vida mas a resposta revelar-se-á muito mais complexa do que alguma vez sonhámos.
Os amigos terão sempre a tentação de nos puxar para jantares com gente "interessante" e que "tem tudo que ver contigo". Mas eu acho que nós precisamos é de silêncio. O silêncio, que tanto magoa, tem essa vantagem de nos fazer ouvir (e ver?) com muito mais nitidez. Nós às vezes não conseguimos é ouvir o eco da nossa dor. E a parcialidade do nosso sofrimento nunca nos levou longe.

Esta é a fase em que as músicas parecem ter sido escritas para nós e os filmes nos parecem uma grande ilusão onde no entanto todos queremos morar. O mundo conspira contra os corações vulneráveis. Normalmente, nesta altura também podem surgir gastos inesperados:pequenos incidentes domésticos ou fiscais que nos levam o resto da dignidade que ainda havia em nós. A vantagem de tudo isto é que a seguir só podemos renascer.

(...)"

in O sexo e a Cidália, NS' 199, 31 de Outubro de 2009

Superpowerless

Wednesday, October 28, 2009

Piedade por Angeline



Quando desembarcou em São Jorge, Angeline, the prettiest mess you've ever seen, estava bem à altura do seu nome. Durante uma viagem de seis horas num grande imbróglio de ferrugem que gemia e tremia como um cobarde, tivera tempo para perceber a sua situação: não é que tivesse andado à procura do amor, mas tinha-o encontrado. No lugar errado. E por isso, toda ela estava agora em carne viva.
No porto das Velas, mais do que o grande saco de desporto, o que ela carregava verdadeiramente era o peso das memórias e das perguntas que elas geravam. De tudo, o que mais lhe custava aguentar era a sensação de se ter enganado. Sim, era uma mulher orgulhosa. Considerava-se perspicaz o suficiente para distinguir à distância um gracejo de uma palavra sincera - eu bem lhe disse que essa altivez seria o motivo da sua queda. Mas, mais do que tudo, foi o seu coração demasiado benevolente que a baptizou. Foi a sua sede de aventura que a levou para o buraco onde está agora. Pensou que era diferente sem perceber que o que realmente pensava era que ela era melhor do que nós.
Angeline era assim, não negava uma oportunidade a ninguém a quem quisesse dar uma oportunidade. E ria disso, como ria de si própria. Pensava no quanto a vida era excitante e tentava descobrir o que é que havia em si que tanto atraia e fascinava as outras pessoas jurando que, se algum dia a conseguisse encontrar, que cortaria fora essa sua parte e mandaria à sua amada prostituta. Tal como Van Gogh.
Quando Angeline conheceu a prostituta ia assim, a rir, sem pensar, acreditando que era esse o seu grande trunfo: não querer nada da vida e muito menos dela. Mas depois do primeiro encontro, começou a haver medo no seu coração. Disse-me uma vez enquanto fumávamos um charro na Baía da Salga que já sabia de cor todas as canções preferidas da prostituta. Não gostava da maior parte, mas dava por si a ouvi-las no carro e a falar delas aos amigos.
Eu disse-lhe para parar, ela respondeu que ia pôr o pé bem lá no fundo do acelerador. Olhem para ela agora. É aquela ali, com o saco de desporto e o coração despedaçado.

Tuesday, October 20, 2009

What's your heart's desire today, sweetie?

Nunca. Nunca é das minhas palavras favoritas por encerrar em si uma espécie de feitiço. Quando se diz nunca está-se a desafiar a existência. Alguém toma como certo ser dono do seu destino, a existência sorri, esfrega as mãos de contente, leva o seu tempo e depois mostra a essa pessoa que ela é apenas um barco que navega num mar imenso e fora do seu controlo.

Dou comigo muitas vezes a fazer coisas a que tinha negado qualquer possibilidade de futuro com um nunca. Rio de mim nessas alturas. E rio porque ser surpreendente é a minha característica favorita da vida. Rio porque sou imensa, mas pequena ao mesmo tempo. Quero certas coisas, mas sei que por as querer isso não significa que sejam o melhor para mim. Sigo o meu caminho, sigo o meu instinto e, mais do que outra coisa qualquer, sigo o meu desejo. Seja até um quarto de hotel ou para um outro país, a sensação que dá cá dentro é a de correr. Fugir deixando tudo para trás. Correr atrás do que verdadeiramente interessa. Metaforicamente, é chegar a uma secretária cheia de papéis, relatórios e actas e atirar com tudo para o ar. O desejo é a suprema liberdade.

Às vezes perco-me em todo esse querer. Chamo febres a essas fases porque, apesar de serem intensas, já aprendi que passam. Acordar com uma coisa na cabeça, comer com ela na cabeça, vê-la na nossa cabeça, o dia a passar sem que o sintamos, varrer o chão com ela na cabeça e chegar à cama cansada, mas ainda a querer adormecer com ela.

As febres passam, mas há desejos que ficam. E parece-me que os que ficam são a melhor definição possível de quem somos. Não a cor favorita, o nome, a idade ou sequer algum gosto porque esses são, mais do que tudo, a nossa reacção a uma realidade que nos é apresentada: ou nos é agradável ou não é. O que queremos, por outro lado, não tem nada a ver com o que nos rodeia. Ser filho de mineiros e ter o desejo profundo de ser mergulhador, viver no Sara e procurar na imaginação o toque da neve. Nós somos os nossos desejos.

Nunca. "Nunca vais conseguir". Há sempre alguém por perto que tem gosto em dizê-lo. É nessas alturas que eu penso em dois amigos meus. O primeiro, diz-me constantemente que tenho de reduzir o desejo sem se aperceber que, se eu o fizesse, estaria a cortar uma parte de mim na mesma proporção. O outro, mais sábio, diz num inglês meio manhoso "If you have enough will, if you are stubborn and if you have enough imagination". Gosto deste segundo amigo à brava. Chama-se Ryszard Kapucinski e ouvi-o dizer isto no primeiro dia em que consegui ouvir a sua voz. Dois anos depois dele ter morrido.

Oiçam-no também a partir dos 8:38 m


Thursday, October 15, 2009

No princípio foi assim...


"This new creature with the long hair is a good deal in the way. It is always hanging around and following me about. I don't like this; I am not used to company . I wish it would stay with the other animals... Cloudy today, wind in the east; think we shall have rain...We? Where did I get that word? I remember now- the new creature used it"

Adam talking about Eve in The Diary of Adam and Eve by Mark Twain


Wednesday, October 14, 2009

Summer of 09



As manhãs e as noites são as alturas mais difíceis para os doentes depressivos. São os momentos do balanço, tanto do dia que acabou como do que está para começar. Pensa-se no que ficou por fazer nas doze horas que entretanto passaram e em validações para as seguintes. Vistas assim as coisas, é fácil alargar a teoria a todas as pessoas e não apenas aos depressivos. Todos precisamos de arranjar uma forma de estar em paz com o que passou. Quase tanto como precisamos de uma razão que justifique abandonar a dormência que a cama facilita.

No outro dia ouvi uma personagem televisiva feminina afirmar que as mulheres lamentam os homens com quem foram para a cama enquanto os homens lamentam as mulheres com quem não foram. Parte portanto da premissa de que aquilo que se procura na cama varia consoante o sexo sendo que serão mais básicas para os homens e mais sentimentais no caso feminino. Acho que o enfoque está errado.

As manhãs boas trazem-me à memória o gosto de um beijo e o calor de um cena de lençóis que agora consigo ver de fora enquanto expectadora e já não no papel de actriz principal. Abençoadas e doces curtas- metragens que me levam ao espelho da casa de banho com um sorriso malicioso.

As mulheres do séc.XXI já sabem que lá por passarem uma noite com um homem isso não significa que se fale de amor na manhã seguinte. E, se há homens que saltam como uma mola da cama depois de terminado o ritual, também há mulheres que respiram de alívio quando o vêem apertar o cinto à pressa e dormem profundamente depois do bater da porta.

Aparte umas seitas estranhas espalhadas por esse mundo fora já ninguém se guarda para o Special One. Hoje o sexo para uma mulher é o mesmo que para um homem: uma imensa caixa de chocolates variados em que quando um nos parece apetitoso leva-se à boca. Claro que queremos encontrar o perfeito para nós, o nosso Special One, mas já sabemos que haverá uns quantos de pistachio (blargh!!) até o encontrarmos.

Então porque é que as mulheres choram no dia seguinte? Nunca ouvi falar de um homem que chorasse por ter passado uma noite com uma mulher. Podem arrepender-se, mas não choram. Não vão tomar um banho dois dias depois com uma sensação de sujidade que não sai com gel duche ou sabonete.

Por mais êxito que o Sexo e a Cidade tenha tido ainda não destronou em audiência a Bela Adormecida ou a Branca de Neve e os Sete Anões (exemplos curiosos este dois: em ambas as histórias as princesas são despertadas por um beijo). Quando acha que encontrou um princípe o que mata a mulher nas manhãs e nas noites seguintes é a ausência de magia. Um enredo enfadonho. Um fim abrupto para a história que prometia um final hollywoodesco. A cabeça perde-se num redemoinho de perguntas e as mulheres experientes - ou melhor, as desligadas- sabem que não existem respostas. Não temos de lhe tentar encontrar explicação.

Não são as posições sexuais, o número de orgamos ou sequer a falta deles. É o que se deu antes e depois disso acontecer. A preocupação, o carinho, as gargalhadas que se partilharam na mesa do pequeno-almoço, a intimidade, o afagar do cabelo, saber o cheiro do suor dele. Quando nada disso existiu as manhãs e as noites são de sono profundo e descansado. Mas depois de um passeio ao luar de mão dada ao som de uma música melosa as manhãs e noites seguintes têm fantasmas aterradores.

As mulheres acham sempre que foram enganadas, que foram tolas em acreditar, em não ter sabido ler os sinais. Da mesma forma que um bêbado quando passa mal jura que nunca mais vai voltar a beber um gole de alcóol, um coração magoado promete fechar-se no próximo rendez vous sem perceber que fazendo-o está a encurralar-se numa mansão abandonada.

O coração é um boxer profissional. Está habituado a que lhe partam a cana do nariz e cuspe sangue como um velho escarra para o chão. Apesar de tudo, devo confessar: o meu coração está a ficar cansado.

Wednesday, August 26, 2009

Xcape from URselF

Complete experience of the senses... feel it inside

Deixa-se a noite lá fora. Com ela ficam as palavras, os preconceitos e algum do medo. É leve que se entra nesta fantasia, com chão de terra batida e seres esvoaçantes presos no tecto. São as alforrecas gigantes deste mundo subaquático onde a música é a água e nadar é fácil. Basta deixarmo-nos levar. Se pensares, vais quebrar a fluidez de movimentos, se falares, vais ter de gritar e ninguém te vai ouvir. Por isso, não tentes fazer nenhuma das coisas.

Já tinhas visto o mundo à tua volta com esta banda sonora? Já tinhas sentido o teu peito bater com um ritmo que não é o do teu coração? Alguma vez te pareceu tão fácil voar? Scchhhh! Não respondas! Já te disse, aqui não se fala. Aqui não se pensa. Estás a ver aquela miúda ali à frente? Com os brilhantes dourados nos olhos e uma orquídea presa no cabelo? É linda, não é? Diz-lhe isso sem palavras, só com os olhos. Pode ser que hoje seja o teu dia de sorte.

O ritmo é rápido e repetitivo. Vais perder-te nele. Olha para cima. Tens um céu só para ti, é branco e de todas as cores ao mesmo tempo. Fecha os olhos! Aquela rapariga que levaste para casa na outra noite com olhos de deserto que cheirava a especiarias. Estás a sentir o cheiro dela agora. Tens os lábios secos. Passa-lhes a língua para os humedecer. Não pares de te mexer! Estás deitado na tua cama outra vez e ela está a lamber-te a barriga e a beijar-te o peito. Outra vez. Com uma boca carnuda e doce que não soubeste explorar então. Aproveita agora. Aqui, dentro da tua cabeça, ela não te pode impedir. A vontade dela não conta. Faz dela o que quiseres. Isso... Ahahahaha!

Abre os olhos. Percebeste agora? Aqui tudo é possível. Todos à tua volta sorriem e dançam para ti. Aqui, és mais do que o que tu és porque fazes parte do todo. Esta energia que pulsa e semeia sorrisos. Vai buscar uma bebida. Eu dito as regras: uma vodka com redbull. Hoje descobres a felicidade na escravatura do ritmo. Anda, deixa-te levar.

Vem aí a rapariga com a orquídea no cabelo. Deixa que eu te guie para fora de ti antes que o sol nasça. Deixa que a tua mão descubra novos caminhos no corpo dela.

Thursday, August 20, 2009

Amor & Transportes Públicos

Ela gostava de andar de metro e de autocarro. É estranho, mas gostava. Um dia, apanhou um TGV de Bruxelas para Amesterdão e descobriu que gostava ainda mais de andar de comboio. Havia qualquer coisa de fascinante na paisagem a passar depressa enquanto ela estava comodamente sentada junto à janela. Sempre gostou de observar os outros, de os estudar. E, por vezes, chegava a casa e escrevia a história que imaginava ser a da vendedora de peixe ou a do velho bêbado que dizia palavras sem nexo, imperceptíveis, sentado nas escadas da igreja de Benfica. Aquele que apanhava sempre o 58 para sair em Sete Rios. E cheirava a podre.

Um dia, conheceu um rapaz e disse-lhe nunca. Mais tarde percebeu que dizer nunca é desafiar o destino a trocar-nos as voltas. Assim foi. Três meses depois de lhe dizer nunca, reencontrou-o e ele disse-lhe que queria estar com ela, mais ou menos na mesma altura em que ela sentiu que também queria estar com ele. Tinha uns olhos meigos e frágeis, daqueles que funcionam like a charm para tudo o que é mulher de coração de manteiga. Entre os olhos meigos dele e o coração de manteiga dela a coisa parecia funcionar bem. Mais do que olhos meigos, ele tinha um cabelo cor de mel, e uma voz serena que à noite usava para lhe falar de golfe quando, juntos na cama, ela pedia que lhe contasse uma história.

A história, invariavelmente, era sobre golfe. Ou melhor, mais do que sobre golfe, era sobre a paz que ele dizia sentir quando percorria os "verdinhos", quando cheirava o ar puro do green. Histórias de bolas perdidas e achadas e das pessoas que as procuravam. Ela não lhes prestava muita atenção. Gostava mesmo era de ouvir a voz dele antes de adormecer.

Da primeira vez que andaram de autocarro, ele ficou um pouco enjoado. Não gostava nada de andar de transportes públicos. Passava mal, sobretudo se ela estava por perto, coisa que ainda o inquietava. Tinha de ir sentado. De frente.

Durante algum tempo, a preocupação pelo bem estar dele ocupou-a por completo. Até que chegou o dia em que ele já reagia melhor aos solavancos do autocarro e ao mau cheiro do metro. Foi aí que ela lhe disse que gostava de andar de transportes públicos, que gostava de Lisboa, da confusão das cidades maiores do que a sua, que gostava de andar depressa e que, um dia, iria a ritmo rápido para o mais longe que conseguisse.

Ela queria banhar-se no Ganges, mesmo sabendo agora que era um dos rios mais poluídos do mundo, andar de carrocinha puxada a cavalo pela neve em Central Park, e beber uma pint num pub na Irlanda. Também queria pintar o cabelo de verde e comprar um peixinho dourado, mas isso não lhe pareceu de grande importância na altura de falar do que precisava para ser feliz.

Ele ouviu, ficou sem saber o que dizer e continuou a contar histórias de vidas simples. Uma pescaria no Pico, um banho de mar na Praia da Vitória, ter um carrinho seu e não ter de andar nunca mais de transportes públicos!! Era isto que ele queria.

Arranjaram uma bela e espaçosa casa onde os olhos meigos dele e o coração de manteiga dela foram felizes, mesmo nos dias em que diziam que não eram. Ela comprou um carro e ele deixou de andar de metro e de autocarro. Dormiam colados, tomavam banho juntos e às vezes bebiam umas cervejas quando se sentavam no grande sofá de cabedal para ver futebol. Toda a acção tinha banda sonora, todo o gesto uma combinação perfeita de carinho e sinceridade. Embalados nesta harmonia, ele esqueceu-se do golfe e ela que queria ir rapidamente para o mais longe que pudesse. Porque já não queria. Estava ali mesmo bem e achava que iam ter os filhos mais lindos do mundo: com olhos meigos, mas verdes, e um coração de manteiga com menos anseios, mais sereno.

E se esta história fosse da Disney ou da Pixar teria acabado aqui. Mas como o rapaz dos olhos meigos e a rapariga de coração de manteiga existiram mesmo não acabou.

Hoje ela percebe ainda melhor o quão especial era aquela casinha porque cá fora, a sinceridade e o carinho são coisas raras. A cada esquina promete-se isso mesmo, mas depois recebe-se o contrário. O mundo fora da casinha é mais feio e assustador. Às vezes, apetece-lhe voltar, mas já foi avisada, não sabe bem por quem:

Nunca voltes a um sítio onde já foste feliz. Por mais que o coração to peça, não oiças o que ele diz.

KiSS

Monday, August 17, 2009

Black Heart Inertia



(...)
Lover, can you help me?
I'm a child lost in the woods
A black heart pollutes me
and i think...

You're a mountain that I'd like to climb
Not to conquer, but to share in the view
You're a bonfire and I'm gathered 'round you.
Set this old black heart inertia aflame
Send it away...
Send it away...
Send it away...
Send it away...
Send it away...
Send it away...
Send it away...
Send it away...
(...)

Black Heart Inertia by INCUBUS

Wednesday, August 12, 2009

O MEU Mau Amor

Um carro segue a velocidade constante e agradável pela estrada fora. Sozinho. Com tempo para ver a paisagem: dois ilhéus do lado direito e um mar imenso que brilha como prata. A rádio grita os seus sons preferidos sem se preocupar com o gosto de passageiros ou transeuntes porque estamos sozinhos. E basta um carro, um só, para quebrar o feitiço. Fazer-nos baixar o som e deixar-nos a pensar em coisas tão corriqueiras como se vamos ser ultrapassados ou não.

Com o Mau Amor aconteceu uma coisa parecida. Era um blogue que seguia o seu caminho sem se preocupar com camaradas de estrada, seguidores ou audiências. Na sua solidão encontrava a liberdade. Assim, conseguia abrir o coração ao mundo e isso é muito diferente de abrir o coração ao João, à Maria ou à Isabel.

O mundo não nos diz que devemos mudar de nome, que devemos pôr mais fotos ou que, se calhar, não nos devíamos expor tanto. Lá está, o Mau Amor quer falar com o mundo porque o mundo não o vai julgar. Apontar destinos no mapa. Ou reparar que o carro está a precisar de uma limpezazita.

O Mau Amor não é um livro, logo não se vai vender. Não é um jornal porque não lhe interessa falar dos mais recentes acontecimentos de outras pessoas, em outros lugares.

Deixem-me apresentar-vos o Mau Amor...Arrhhumm...Arrhhumm...

Messieurs et Madames, Garçons e Garçonetes, conheci o Mau Amor num beco do Bairro Alto. Eram quatro da manhã e ele estava bêbado. Eu também. Não dissemos os nossos nomes um ao outro e fizemos o pacto de nunca o dizer, como quem conspira contra o mundo dos outros. Inventámos novos nomes por que não achávamos justo que alguém fora de nós pudesse tomar uma decisão tão importante para as nossas vidas. Chamei-o então de Mau Amor porque tinha uma cara mal humorada que, quando se abria num sorriso, prometia todo o Amor que eu conseguisse aguentar. Ele chamou-me Ana Brasil porque, quando me viu nua, disse que lhe lembrava as paisagens geladas da Rússia, mas que quando lhe sussurava ao ouvido sentia o calor de Copacabana.

Conheço bem o Mau Amor e por isso digo-vos: Ele, quando fala de outras pessoas, refere explicitamente os seus nomes ou usa um símbolo para que elas e só elas saibam de quem se está a falar. O Mau Amor não plagia, cita. O Mau Amor não lava roupa suja.

Mas a coisa mais importante a saber sobre o Mau Amor é que ele é MEU. A segunda é que ele é livre. Terceira, não lhe interessa se gostam dele. Por isso não, ele não está a referir-se a ti Joana, Manuel, Joaquim ou Ernestina. Vocês pertencem à realidade e às vossas vidinhas. O Mau Amor é a minha.

Por isso vamos continuar na estrada. Estamos com pressa mas não temos destino. Gostamos mesmo de apreciar a paisagem quando a estrada está vazia. Mais do que qualquer outra coisa, gostamos de ouvir a música aos berros e de cantar mal sem que nos possamos ouvir. Sabemos que vão aparecer outros carros na estrada, mas vamos tentar ignorar-vos. Porque, pelo menos aqui, queremos continuar a ser livres.

Atenciosamente,


A Direcção

Friday, August 07, 2009

Bom Amor



Good night and good luck*

Thursday, August 06, 2009

Do Touto para a Pateira

As palavras têm uma magia própria. Depois de ditas, as palavras só se perdem na memória. Não é possível voltar atrás nas palavras. Podemos pôr um Não depois de um Sim, mas isso não faz com que o Sim desapareça.

No séc.XXI- aquele que não tem poesia, lembram-se?- escrevem-se mensagens e e-mails, mas escrevem-se poucas cartas e isso faz toda a diferença. Já apaguei muitas mensagens, números de telefone e e-mails. Já bloqueei pessoas do meu msn. Mas nunca fui capaz de pôr fora uma carta de amor. Nem sequer uma carta de amizade.

De vez em quando encontro-as, outras tantas procuro-as. São como bilhetes de avião para outros tempos e lugares. Tenho muita sorte, todos os meus amigos o dizem, mas eu só acredito mesmo nisso quando abro a minha gaveta cheia de cartas de amor.

São todas do Touto para a Pateira e, apesar dos nomes serem ridículos, nada mais nelas o é. Pus fora tudo o resto, sobretudo os presentes caros que comecei a receber quando nos começámos a perder um do outro. Mas pus fora também os mais pequenos. Guardei só as cartas de amor, os desenhos e as fotografias, as provas de que aquelas pessoas realmente existiram.

Hoje, quem nos veja passar um pelo outro não percebe que um dia fomos as pessoas mais importantes da vida um do outro. Entre nós, gostaríamos de saber se ainda o somos. Mas as palavras gastaram-se quando o amor acabou. Já não falamos há anos, mas eu ainda tenho todas as tuas cartas e aquelas palavras vão acompanhar-me durante toda a minha vida. Eu faço questão de que assim seja.

Nunca mais falei de nós a ninguém. São os acontecimentos mais recentes que preenchem as conversas de café. Mas quando procuro a parte mais pura de mim, encontro-as nas tuas cartas de amor.

Houve um dia em que enchi uma mochila com velas e uma manta. Tu fizeste o mesmo. Estávamos nas Sanjoaninas. Lembro-me disso porque, enquanto estávamos deitados na noite, o vento trazia o cheiro do mar e o som de um concerto no Bailão. Quando morrer, quero ir para esse momento. E, graças à tua carta de amor, vou saber sempre o caminho para lá chegar.

Wednesday, August 05, 2009

Este sim é para ti, 23

Não há um livro. Existem páginas de um diário. Uma por dia. Primeiro em branco, pode ser tudo, pode ser nada. Eu gosto delas todas, das páginas com desenhos, das aventuras que guardam, dos amores. Às vezes têm poemas e círculos de tinta borrada onde o papel não é liso. Outras devaneios, mortes e flores secas. Gosto delas todas. Gosto da página 23. Não vou arrancá-la. Não vou rabiscá-la. Gosto dela.


Puedo escribir los versos...

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: «La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos.»

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En noches como esta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche esta estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercala mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo"


Pablo Neruda, Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada

Hate Mail

Porque vivemos numa Democracia, que funciona mal, mas almeja ser melhor, hoje publicamos uma carta de um seguidor muito odioso - que, a julgar pelo uso preferencial da segunda pessoa do plural, deve ser lá do Norte. Assim, sinto-me obrigada a dar voz a uma pessoa que dela não devia ter feito uso no infeliz dia em que estes pensamentos lhe surgiram. É uma tristeza. Vamos ouvi-lo e lembrarmo-nos dele para que depois possamos dizer: Não sei para onde vou, mas sei que não vou por aí. Senhor Cromo, V. Exa. tem a palavra!

O Amor ao próximo

"Vós outros andais muito solícitos em redor do próximo, e a vossa solicitude exprime-se em belas palavras. Mas eu vos digo: o vosso amor ao próximo é apenas o vosso mau amor por vós próprios.
É para fugirdes de vós que andais em volta do próximo, e quereríeis converter isso numa virtude, mas pus a claro o vosso «desinteresse».
(...)
Não suportais a vossa própria companhia, e não vos amais o suficiente, procurais então seduzir o próximo com o vosso amor e doirar-vos com o seu erro.
Eu quisera que todos os próximos e aqueles que se seguem se vos tornassem intoleráveis: assim teríeis de extrair de vós mesmos o amigo de coração transbordante.
(...)
Assim fala o louco: 'O convívio dos homens estraga o carácter, sobretudo quando não tem carácter'. Um procura o próximo porque se procura, o outro porque anseia perder-se. O vosso mau amor por vós próprios converte a vossa solidão num cativeiro".

Friedrich Nietzsche, in 'Assim Falava Zaratustra'

Nota do MaU aMoR:
O senhor obviamente não partilhava o seu Kinder Bueno com os outros coleguinhas na hora do intervalo.

Friday, July 31, 2009

The sky is falling

Lamento. Hoje não há poemas. Se estão à procura disso, é melhor ficarmos por aqui. Hoje o céu está a cair e, por mais que eu quisesse ver estrelas e possibilidades remotas, só consigo ver os estilhaços do Universo a aproximarem-se depressa. Parecem cortantes. Afiados.

Há dias assim. A maior parte das pessoas não gosta de falar deles. Mais, a maior parte das pessoas não gosta de ouvir falar deles. Preferimos todos dizer "Tudo", quando nos perguntam à pressa "Tudo bem?", ou "Estás boa?".

Eu não sou a maior parte das pessoas (mas gostava mesmo de ser). Eu odeio quando me perguntam se está tudo bem, porque sei que, do outro lado, se espera que eu diga "Tudo". E muitas vezes não está. E não há nada de mal nisso.

Não me digam para me alegrar. Não me digam que amanhã será melhor. Eu sei disso. Mas, hoje, o céu está a cair. E eu não vou fechar os olhos. Vou abri-los ao máximo e, com eles bem abertos, vou olhar para os pedaços que caiem e tentar absorver todos os pormenores das suas formas. Vou tentar perceber se se deslocam à mesma velocidade e não me vou desviar um centímetro sequer para os evitar. Vou sentir a dor e fazer por me lembrar dela.

As malas ainda estão abertas, esventradas, no chão, de frente para a cama. Antes, não pareciam ter grande importância. Mas, agora que o céu está a cair, têm. Em breve, quando tudo tiver caído por terra, será altura de mais uma vez dobrar perfeitamente a roupa antes de a pôr nas malas e depois a deixar acumular em cima de uma cadeira noutro sítio qualquer.

Neruda escreveu "Hoje poderia escrever os poemas mais tristes". Eu lamento, mas hoje não consigo escrever poemas. Hoje, o céu está a cair.

Sunday, July 26, 2009

Não te deixarei morrer, Caneco

Aprendi a fumar na janela do teu quarto em Benfica. Não foi o nosso primeiro cigarro, mas foi a partir daí que começámos a fumar. Estavas sentada na cama, eu encostada à janela. Ouvíamos Jorge Palma no repeat e pensávamos em como o Amor nos tinha traído. Não o conseguíamos mesmo perceber. Tentámos muito e sofremos muito por isso.

Escrevemos cartas, mensagens, contos. Tivemos encontros na praia, cruzamo-nos casualmente na escola. O Amor piscava-nos o olho, mas não nos agarrava. Não da forma que queríamos. Por isso, inventámos histórias. Imaginámos o futuro e tentámos decifrar o passado. Juntas. Todos os comos e porquês de cada acção ou palavra serviam para medir o sentimento, encontrar-lhe um sentido para além do óbvio, tirar-lhe a pulsação e optar entre declarar o óbito ou dar-lhe uma última injecção de adrenalina. E nós, Caneco, nós optámos sempre por o deixar viver. Por o embalar ao som de Jorge Palma num ambiente escuro de fumo, onde ninguém visse as nossas lágrimas. Porque nós temos o cabelo cor de trigo e a sina que vem com ele.

Essa mesma sina fez com que, sete anos mais tarde, a situação não fosse muito diferente. Juntámos-lhe outras coisas: eu fiz o vodka, tu puseste Dave Matthews Band a tocar. Desta vez, não ficámos a falar até tarde. À volta da mesa, a minha história era demasiado diferente da tua, mas ambas estávamos atarantadas com o Amor. Sete anos depois, continuávamos a não o perceber, mas desta vez, não nos estávamos a esforçar. Juntas, em silêncio. Em silêncio porque quando perdemos a esperança no Amor, perdemos também as palavras. Desta vez, não ficámos a falar até tarde. Mas tu disseste: "Espero que a tua história corra bem, se não, deixo definitivamente de acreditar no Amor".

A fumar um cigarro na minha janela. A ver o fumo serpentear na noite clara, estou a pensar em ti e estou com medo. Tenho medo de que deixes de acreditar no Amor porque sei que, se perdermos a fé na beleza, vamos ser só mais duas, duas tontas, duas alcoólicas, duas cobardes que a vida vai chupando até secar. E, mesmo que estejamos juntas, vamos aprender a ser infelizes.

Deixo-te aqui um dos poemas que um dia lemos no chão do teu quarto. Mas não te vou dizer que ele está aqui.

"no tempo em que éramos felizes não chovia.
levantávamo-nos juntos, abraçados ao sol.
as manhãs eram um céu infinito. o nosso amor
era as manhãs. no tempo em que éramos felizes
o horizonte tocava-se com a ponta dos dedos.
as marés traziam o fim de tarde e não víamos
mais do que o olhar um do outro. brincávamos
e éramos crianças felizes. às vezes ainda
te espero como te esperava quando chegavas
com o uniforme lindo da tua inocência. há muito
tempo que te espero. há muito tempo que não vens."


José Luís Peixoto, in a criança em ruínas

Thursday, July 23, 2009

Elogio do Inverno

Dava tudo para me levantar desta cadeira e vestir o meu sobretudo comprido de veludo preto, puxar a gola e o cabelo para cima. Calçar as Dr. Martens lustrosas e abrir a porta para entrar num dia cinzento de chuva e frio nas ruas da baixa lisboeta. Entrar no Vertigo e pedir um café, deixando o guarda-chuva fechado a pingar junto à porta(aquele transparente de que tanto gostava e que ficou destruído assim que cheguei aos Açores).

O Inverno dá-me clareza de pensamento. O Verão uma irrequietude difícil de controlar. Esta humidade uma grande dor de cabeça.

Sonho com Lisboa e com o frio como quem sonha com paz. Tenho saudades dela. Ainda que a irrequietude seja movimento, é energia dispersa, não é acção. Quando tudo se desmorona, temos de ter uma direcção para nos protegermos do céu a cair.

Não há ninguém a apontar o caminho. Nenhum panfleto com procedimentos a adoptar. Apenas a vontade de ser mecânica e sentir na cara uma rajada de vento gelado.

Humpty Dumpty e a desgraçada da Alice


"I don't know what you mean by 'glory,'" Alice said.
Humpty Dumpty smiled contemptuously. "Of course you don't – till I tell you. I meant 'there's a nice knock-down argument for you!'"
"But 'glory' doesn't mean 'a nice knock-down argument,'" Alice objected.
"When I use a word," Humpty Dumpty said in a rather a scornful tone, "it means just what I choose it to mean – neither more nor less."
"The question is," said Alice, "whether you can make words mean different things."
"The question is," said Humpty Dumpty, "which is to be master – that's all."
Alice was too much puzzled to say anything, so after a minute Humpty Dumpty began again.
"They've a temper, some of them – particularly verbs, they're the proudest – adjectives you can do anything with, but not verbs – however, I can manage the whole lot! Impenetrability! That's what I say!"


Lewis Carroll,Through the looking glass

Wednesday, July 22, 2009

Aula de História

Vou começar pelo princípio. Os primórdios do Mau Amor remontam a 1993. Estava na quarta classe e ele tinha um nome esquisito e uma irmã feia de que eu não gostava. Lúcio Carapeta, alto, de cabelo liso, apanhado atrás das orelhas e sempre a mastigar pastilha elástica. Lembro-me dele assim. Vou ser directa: era um jeitosaço. Mais de quinze anos depois, imagino que tenha uma barriga de cerveja e um filho precoce algures.

Eu e ele éramos então dos poucos miúdos que chegavam às folhas das amoreiras que ainda crescem no espaço em frente à escola. Hoje, quando passo por lá, lembro-me disso rindo, vendo que, se estiver distraída, ainda levo com um galho na cabeça. Mas sobretudo, lembro-me do dia em que ele, sabendo que eu "gostava" dele, decidiu tomar uma atitude e pegar o touro pelos cornos: eu. Estávamos em frente à escola e ele começou a correr atrás de mim para me dar um beijo. Sim, ele teve de correr, porque assim que percebi o avanço, comecei a correr à volta de um banco de jardim a tentar fintá-lo. Passei a aula em pânico a pensar no intervalo da tarde que se aproximava. Fui a primeira a sair da sala quando a campainha tocou e escondi-me dentro do cubículo da garrafa de gás, apertadinha, a ouvi-lo lá fora à minha procura. Depois amuou e desistiu. Ufa!

O segundo momento importante do Mau Amor viria pouco tempo depois. Estava a curtir o meu Dia da Criança num baloiço, no Relvão -assim chamado por ser um grande espaço relvado com escorregas e afins-, quando um colega me chamou nomes. Claro que me levantei, persegui-o até o apanhar, o que aconteceu quando ele caiu, e, estando no chão, eu aproveitei para lhe pregar uns bons pontapés. Quando voltámos para a escola passaram-me um bilhete dele. Uma folhinha de papel onde eu esperava encontrar um desafio para um duelo depois da escola ou uma ameaça do género "Vou dizer tudo à minha mãe! Estás fudida! (quarta classe, remember?)". O que eu não esperava mesmo era encontrar o que encontrei: um pedido de namoro.

Como todas as aulas têm um sumário, não consigo escapar à tentativa de uma conclusão. A mais fácil seria que o meu Amor sempre foi difícil. Para mim, sobretudo, mas para os outros também. Mas que deu sempre uma história engraçada para contar.

Raspando um pouco mais a superfície, diria que o Amor sempre me assustou muito, quase tanto como me fascina. A capacidade de surpreender, as histórias que tem para contar, como pode surgir no recanto mais inesperado, como pode ser tudo num minuto e nada depois de quatro anos. A sua inexplicabilidade, a sua violência, a sua doçura, a resistência e a entrega.

Estava a tentar fazer uma lista das minhas coisas preferidas no mundo inteiro, e, matando o suspense à partida, o Amor é a primeira. Esqueçam as crianças, o Amor é a melhor coisa do mundo. Fica aqui um primeiro esboço em que vou trabalhar nos próximos dias.

1- Estar quente e aconchegada no braço de alguém que se ama
2- Ouvir Amo-te pela primeira vez de alguém que se ama há muito tempo, pacientemente
3- Os meus amigos, amo-os perdidamente. É um poço sem fundo.
4- Música
5- Rir
6- Sonhar com o futuro
7- Lembrar-me do passado
8- Dançar ritmos eletrónicos ao ar livre em noites de Verão estreladas (de preferência, enfrascada)
9- Palavras
10- Gelado de after8 e caramelo ou cookie dough do Ben&Jerry's

It's a work in progress...

Friday, July 17, 2009

Pus o meu sonho num avião precoce

Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
-depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles,

Thursday, July 16, 2009

Souvenir


A minha nova recordação preferida

Wednesday, July 15, 2009

Bedtime Stories

"Aprendi com a Primavera a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira"

Cecília Meireles


Nas noites de mau dormir conto histórias a mim própria para desacelerar o coração. Falo-lhe de uma mulher que não se importa, de ombros para trás e queixo bem erguido, que desafia os olhares que se lhe prendem quando toma as ruas. De ossos salientes e fortes e olhos frágeis e tristes, numa duplicidade encantadora que atrai e repele, conforme a hora e a circunstância. Ela é forte, ela é capaz de lidar com esta situação, ela não tem medo nem vergonha. Ela não tem expectativas. Mas eu tenho.


Eu tenho essas coisas todas e bastante mais. Os meus ossos partem-se. Por vezes, deixo tudo para ficar à espera mas tento enganar-me e pensar que estou em movimento. Mas nunca consigo. Vejo o que quero para além daquilo que posso ter e sinto-me sempre capaz de dar o salto. Tenho medo mas estou preparada para uma queda infeliz porque sei que aguento o impacto. O meu medo dá-me a certeza de que estou consciente dos riscos e aqui descubro a verdadeira coragem. Mesmo quando estou só. À espera.


De uma aventura para uma paixão perdem-se duas letras e quatro paredes intransponíveis que limitam o futuro. A paixão é uma planície aberta, quente e árrida, uma aventura uma brisa fresca que nos surpreende num dia de Verão. Sabe bem mas já passou antes de nos termos dado conta. Tão depressa quanto chegou. Foi bom não foi? Esta é a única pergunta possível e fazemo-la a nós, sorrindo, dias mais tarde.


Com a paixão o diálogo é mais complexo, porque os sentimentos também o são: "Quando é que te posso voltar a ver? E amanhã?" Fazem-se sacrifícios, encontram-se compromissos. Ganham-se riscos e uma gama completa de promessas difíceis de cumprir. Existem expectativas. Mea culpa. Tenho expectativas e não queria admiti-lo, pensando que não poderiam ser satisfeitas. Ouvindo que não poderiam ser satisfeitas. Mas esqueci-me que as expectativas não ouvem que sim nem que não, despontam do sentimento e podem cair no chão ainda botões de flor fechados. Faz parte da sua natureza, tal como faz parte da minha tê-las, tratar delas e fazer por que a tal flor desabroche, ansiosa por descobrir cores e cheiros. Porque eu nasci na Primavera e dela recebi a capacidade de ver o que as coisas podem ser em vez daquilo que são e a fé que de um galho seco pode surgir a qualquer momento um rebento rejuvenescedor.

Tuesday, July 14, 2009

Bom Humor: o lado B

Este blogue é incompreendido. Este blogue é foleiro. Falta-lhe imagens, falta-lhe diversidade. Tem a mania que sabe alguma coisa sobre o que quer que seja e não tem o humor que devia para não dizer nada. Está quase sempre bêbado e cheira mal no Verão por causa do calor. Isso mesmo, dos sovacos. E gosta de andar de metro. Não tem dinheiro para mais. Este blogue não aluga filmes pornográficos como uma pessoa decente. Antes vê os clips de cinco segundos que vai coleccionando na Internet e depois guarda numa pastinha a dizer XXX. Nem tem a inteligência suficiente para lhe dar um nome chato como IRS 1999 (essa pasta sim, ninguém quereria ver, a não ser a Direcção Geral dos Impostos, que ainda está à espera dele).

Este blogue tem bigode e uma mulher feia em casa à espera dele, com muitos filhos feios que ainda não sabem, mas têm vergonha do pai. Vão descobri-lo no dia em que os amigos deixarem de os chamar Xitãozinho e Xoróró para os tratarem por Boceta e Colhão por causa de um vídeo caseiro arrojado que este blogue pôs na net (era de graça!)para mostrar aos amigos que ainda era um gajo rijo.

"Blogue, you suck!" Ele fica triste e vai ao Lidl comprar uma caixa de vinho tinto com um polegarzinho estendido na embalagem tipo Tetrapac. É barato e dá um coice como os outros. Já não tem de impressionar a mulher e, se ela por acaso lhe torcer o nariz, quando ele, bêbado, lhe levantar a saia, vai dizer-lhe que aquele poster da Ana Malhoa não significa nada para ele.

Sim, este post acabou mesmo. Não há moral no fim desta vez. Nem frases bonitas. Caga nisso. O Mau Amor vendeu-se! Agora é comercial! Buuuuuuu!!
(assobios e garrafas a voar).

Tragam as tochas que este sacana está a fazer-se difícil. Ou dizes qualquer coisa bonita, assim, sobre o amor, ou mandamos-te um vírus. Daqueles ruins...

Sunday, July 12, 2009

Zé Pedro pá, seis anos é muito tempo!

Ontem a esta hora, bebia uma Super Bock com o Zé Pedro à beira de uma piscina iluminada de azul. Tinha-o conhecido há menos de 12 horas mas percebi logo que queria escrever sobre ele no bloque que espero que ele nunca encontre.

O Zé Pedro tem 34 anos, é fotógrafo, e pouco mais quis saber dele. Veio agora do Brasil e há seis anos que está sozinho. "Andas de cabeça virada para o céu?"- perguntei-lhe. Seis anos? Rimo-nos todos: Zé Pedro, isso é uma eternidade! Mas coitado, ele queria apaixonar-se. Da mesma maneira que uma dona de casa começa a magicar problemas com que se entreter, o Zé Pedro olhava para o amigo jornalista que estava bem casado e já com três filhos com olhos sonhadores.

Oferecemos as nossas dores um ao outro com Super Bock como se fossem amendoins. De boa vontade. De graça. Eu, porque acreditava- e esperava- nunca mais o voltar a ver, e ele, como depois vim a perceber, exactamente pelo contrário.

São quase três da manhã Zé Pedro e eu estou a escrever um blogue sentimentalóide, a beber vodka como se não houvesse amanhã e a fumar como se não quisesse que houvesse. Oiço as mesmas canções repetidamente: "Staring at the sun", dos U2, muitas da Sade, "Mamma Said", dos Metallica e um pouco de Foo Fighters. "I can't make you love me", do George Michael. Unplugged. Pensa bem, queres mesmo a dor que tenho agora? A ressaca que vou ter amanhã? Os Zé Pedros deste mundo estão a dormir, amanhã vão acordar bem-dispostos - os Zé Pedros acordam sempre com energia e muita bem dispostos: bora!- enquanto eu, muitas horas mais tarde, vou arrastar-me para fora da cama.

Já não durmo bem desde princípios de Maio. Já não me importo desde mais ou menos essa altura. Não tenho certezas desde 1999. Dito isto, queres mesmo isto que eu tenho? A companhia das perguntas do pensativo cigarro antes de ir dormir? A alegria que tão depressa se desvanece? O cansaço? E a dormência de tanto sentir?

Pois é, eu sei. Não parece que tenho só 25 anos. Sou profunda. Sou bonita. Eu sei ouvir. Eu sei. Eu estou a torcer por ti Zé Pedro. Espero que voltes a chegar ao cume da montanha Zé Pedro, onde o vento é mais forte e apanhar o fôlego é mais difícil, porque daqui vê-se o mundo e daqui sente-se a imensidão da alma. Espero que te apaixones. Mas não por mim.

Sunday, July 05, 2009

O preço certo

"O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade"
in O Amor é fodido, de Miguel Esteves Cardoso.



Pensei que passaria com a idade. Que era uma circunstância da adolescência. Ouvi "Estás cega. Tenho medo do dia em que deixes de estar", e, quando, ao contrário da minha fé, esse amor passou, acreditei que tinha estado mesmo. Mas nunca o lamentei, apesar da dor imensa que se seguiu. Se pudesse, não teria voltado atrás e nada teria sido feito de forma diferente. Porque até os pesadelos que se seguiram a esse despertar, e que ainda hoje me assombram as noites, parecem perfeitos. Lembram-me a força daquele sentimento, revelada na sua face inversa. São o preço que pago, e depois de tanto amor, parece-me justo. Acordo perturbada mas nunca entorpecida, por isso, pago-o de bom grado. O meu coração viveu, vive e quer sempre viver ainda mais. Afinal, não tinha nada a ver com a adolescência. Ele é mesmo assim.

Uma após a outra, as paixões sucederam-se e eu imaginei que o tempo faria com que eu deixasse de dar tanto, como se o coração fosse uma bateria que perdesse potência até finalmente se gastar. Mas, em cada novo primeiro beijo surgiu um querer renovado de repetir as palavras de Neruda: "Quero fazer contigo o que a Primavera faz às cerejeiras".


Não há poesia no amor do século XXI. Quando se fala disso (e fala-se pouco) são estas as palavras que se usam: cega, apanhada, caídinha, maluca. Todas têm carácter pejorativo e implicam a mesma conclusão: apaixonarmo-nos é uma coisa má, algo que devemos evitar. Como se tenta evitar uma gripe, mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde a vamos apanhar.


O Amor no século XXI é uma coisa que se partilha com um amigo dizendo "Epá, merda! Estou mesmo apanhado, foda-se. Já fui!" com cara de chateado. Queremos dizer que sabemos que vamos levar um chuto no cu, que não vamos ser correspondidos, que talvez as lágrimas nos corram. E, pensando em tudo isso, se se pudesse escolher, não quereríamos sentir-nos assim. O preço é alto demais para que o queiramos pagar.


O século XXI é o tempo do facilitismo, da obesidade e da banda gástrica. A fruta vem em boiões, já mastigada. Se a contracepção nos deixa ser livres, a pílula do dia seguinte deixa-nos ser irresponsáveis. O sexo é comercial, o Amor é tabu. Como o MEC, estou farta!


"Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticistas".


Por isso, estas palavras souberam-nos a mel, a mim e ao meu coração:


"Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha- é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste mas mais acompanhado do que quem vive feliz. Não se pode ceder, não se pode resistir".


Obrigada MEC!!