Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Wednesday, August 12, 2009

O MEU Mau Amor

Um carro segue a velocidade constante e agradável pela estrada fora. Sozinho. Com tempo para ver a paisagem: dois ilhéus do lado direito e um mar imenso que brilha como prata. A rádio grita os seus sons preferidos sem se preocupar com o gosto de passageiros ou transeuntes porque estamos sozinhos. E basta um carro, um só, para quebrar o feitiço. Fazer-nos baixar o som e deixar-nos a pensar em coisas tão corriqueiras como se vamos ser ultrapassados ou não.

Com o Mau Amor aconteceu uma coisa parecida. Era um blogue que seguia o seu caminho sem se preocupar com camaradas de estrada, seguidores ou audiências. Na sua solidão encontrava a liberdade. Assim, conseguia abrir o coração ao mundo e isso é muito diferente de abrir o coração ao João, à Maria ou à Isabel.

O mundo não nos diz que devemos mudar de nome, que devemos pôr mais fotos ou que, se calhar, não nos devíamos expor tanto. Lá está, o Mau Amor quer falar com o mundo porque o mundo não o vai julgar. Apontar destinos no mapa. Ou reparar que o carro está a precisar de uma limpezazita.

O Mau Amor não é um livro, logo não se vai vender. Não é um jornal porque não lhe interessa falar dos mais recentes acontecimentos de outras pessoas, em outros lugares.

Deixem-me apresentar-vos o Mau Amor...Arrhhumm...Arrhhumm...

Messieurs et Madames, Garçons e Garçonetes, conheci o Mau Amor num beco do Bairro Alto. Eram quatro da manhã e ele estava bêbado. Eu também. Não dissemos os nossos nomes um ao outro e fizemos o pacto de nunca o dizer, como quem conspira contra o mundo dos outros. Inventámos novos nomes por que não achávamos justo que alguém fora de nós pudesse tomar uma decisão tão importante para as nossas vidas. Chamei-o então de Mau Amor porque tinha uma cara mal humorada que, quando se abria num sorriso, prometia todo o Amor que eu conseguisse aguentar. Ele chamou-me Ana Brasil porque, quando me viu nua, disse que lhe lembrava as paisagens geladas da Rússia, mas que quando lhe sussurava ao ouvido sentia o calor de Copacabana.

Conheço bem o Mau Amor e por isso digo-vos: Ele, quando fala de outras pessoas, refere explicitamente os seus nomes ou usa um símbolo para que elas e só elas saibam de quem se está a falar. O Mau Amor não plagia, cita. O Mau Amor não lava roupa suja.

Mas a coisa mais importante a saber sobre o Mau Amor é que ele é MEU. A segunda é que ele é livre. Terceira, não lhe interessa se gostam dele. Por isso não, ele não está a referir-se a ti Joana, Manuel, Joaquim ou Ernestina. Vocês pertencem à realidade e às vossas vidinhas. O Mau Amor é a minha.

Por isso vamos continuar na estrada. Estamos com pressa mas não temos destino. Gostamos mesmo de apreciar a paisagem quando a estrada está vazia. Mais do que qualquer outra coisa, gostamos de ouvir a música aos berros e de cantar mal sem que nos possamos ouvir. Sabemos que vão aparecer outros carros na estrada, mas vamos tentar ignorar-vos. Porque, pelo menos aqui, queremos continuar a ser livres.

Atenciosamente,


A Direcção

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