Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Sunday, July 12, 2009

Zé Pedro pá, seis anos é muito tempo!

Ontem a esta hora, bebia uma Super Bock com o Zé Pedro à beira de uma piscina iluminada de azul. Tinha-o conhecido há menos de 12 horas mas percebi logo que queria escrever sobre ele no bloque que espero que ele nunca encontre.

O Zé Pedro tem 34 anos, é fotógrafo, e pouco mais quis saber dele. Veio agora do Brasil e há seis anos que está sozinho. "Andas de cabeça virada para o céu?"- perguntei-lhe. Seis anos? Rimo-nos todos: Zé Pedro, isso é uma eternidade! Mas coitado, ele queria apaixonar-se. Da mesma maneira que uma dona de casa começa a magicar problemas com que se entreter, o Zé Pedro olhava para o amigo jornalista que estava bem casado e já com três filhos com olhos sonhadores.

Oferecemos as nossas dores um ao outro com Super Bock como se fossem amendoins. De boa vontade. De graça. Eu, porque acreditava- e esperava- nunca mais o voltar a ver, e ele, como depois vim a perceber, exactamente pelo contrário.

São quase três da manhã Zé Pedro e eu estou a escrever um blogue sentimentalóide, a beber vodka como se não houvesse amanhã e a fumar como se não quisesse que houvesse. Oiço as mesmas canções repetidamente: "Staring at the sun", dos U2, muitas da Sade, "Mamma Said", dos Metallica e um pouco de Foo Fighters. "I can't make you love me", do George Michael. Unplugged. Pensa bem, queres mesmo a dor que tenho agora? A ressaca que vou ter amanhã? Os Zé Pedros deste mundo estão a dormir, amanhã vão acordar bem-dispostos - os Zé Pedros acordam sempre com energia e muita bem dispostos: bora!- enquanto eu, muitas horas mais tarde, vou arrastar-me para fora da cama.

Já não durmo bem desde princípios de Maio. Já não me importo desde mais ou menos essa altura. Não tenho certezas desde 1999. Dito isto, queres mesmo isto que eu tenho? A companhia das perguntas do pensativo cigarro antes de ir dormir? A alegria que tão depressa se desvanece? O cansaço? E a dormência de tanto sentir?

Pois é, eu sei. Não parece que tenho só 25 anos. Sou profunda. Sou bonita. Eu sei ouvir. Eu sei. Eu estou a torcer por ti Zé Pedro. Espero que voltes a chegar ao cume da montanha Zé Pedro, onde o vento é mais forte e apanhar o fôlego é mais difícil, porque daqui vê-se o mundo e daqui sente-se a imensidão da alma. Espero que te apaixones. Mas não por mim.

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