Mau Amor

"I realized these were all the snapshots which our children would look at someday with wonder, thinking their parents had lived smooth well-ordered lives and got up in the morning to walk proudly on the sidewalks of life, never dreaming the raggedy madness and riot of our actual lives, our actual night, the hell of it, the senseless nightmare road"

Jack Kerouac, On the Road - The Original Scroll



Wednesday, July 22, 2009

Aula de História

Vou começar pelo princípio. Os primórdios do Mau Amor remontam a 1993. Estava na quarta classe e ele tinha um nome esquisito e uma irmã feia de que eu não gostava. Lúcio Carapeta, alto, de cabelo liso, apanhado atrás das orelhas e sempre a mastigar pastilha elástica. Lembro-me dele assim. Vou ser directa: era um jeitosaço. Mais de quinze anos depois, imagino que tenha uma barriga de cerveja e um filho precoce algures.

Eu e ele éramos então dos poucos miúdos que chegavam às folhas das amoreiras que ainda crescem no espaço em frente à escola. Hoje, quando passo por lá, lembro-me disso rindo, vendo que, se estiver distraída, ainda levo com um galho na cabeça. Mas sobretudo, lembro-me do dia em que ele, sabendo que eu "gostava" dele, decidiu tomar uma atitude e pegar o touro pelos cornos: eu. Estávamos em frente à escola e ele começou a correr atrás de mim para me dar um beijo. Sim, ele teve de correr, porque assim que percebi o avanço, comecei a correr à volta de um banco de jardim a tentar fintá-lo. Passei a aula em pânico a pensar no intervalo da tarde que se aproximava. Fui a primeira a sair da sala quando a campainha tocou e escondi-me dentro do cubículo da garrafa de gás, apertadinha, a ouvi-lo lá fora à minha procura. Depois amuou e desistiu. Ufa!

O segundo momento importante do Mau Amor viria pouco tempo depois. Estava a curtir o meu Dia da Criança num baloiço, no Relvão -assim chamado por ser um grande espaço relvado com escorregas e afins-, quando um colega me chamou nomes. Claro que me levantei, persegui-o até o apanhar, o que aconteceu quando ele caiu, e, estando no chão, eu aproveitei para lhe pregar uns bons pontapés. Quando voltámos para a escola passaram-me um bilhete dele. Uma folhinha de papel onde eu esperava encontrar um desafio para um duelo depois da escola ou uma ameaça do género "Vou dizer tudo à minha mãe! Estás fudida! (quarta classe, remember?)". O que eu não esperava mesmo era encontrar o que encontrei: um pedido de namoro.

Como todas as aulas têm um sumário, não consigo escapar à tentativa de uma conclusão. A mais fácil seria que o meu Amor sempre foi difícil. Para mim, sobretudo, mas para os outros também. Mas que deu sempre uma história engraçada para contar.

Raspando um pouco mais a superfície, diria que o Amor sempre me assustou muito, quase tanto como me fascina. A capacidade de surpreender, as histórias que tem para contar, como pode surgir no recanto mais inesperado, como pode ser tudo num minuto e nada depois de quatro anos. A sua inexplicabilidade, a sua violência, a sua doçura, a resistência e a entrega.

Estava a tentar fazer uma lista das minhas coisas preferidas no mundo inteiro, e, matando o suspense à partida, o Amor é a primeira. Esqueçam as crianças, o Amor é a melhor coisa do mundo. Fica aqui um primeiro esboço em que vou trabalhar nos próximos dias.

1- Estar quente e aconchegada no braço de alguém que se ama
2- Ouvir Amo-te pela primeira vez de alguém que se ama há muito tempo, pacientemente
3- Os meus amigos, amo-os perdidamente. É um poço sem fundo.
4- Música
5- Rir
6- Sonhar com o futuro
7- Lembrar-me do passado
8- Dançar ritmos eletrónicos ao ar livre em noites de Verão estreladas (de preferência, enfrascada)
9- Palavras
10- Gelado de after8 e caramelo ou cookie dough do Ben&Jerry's

It's a work in progress...

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